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� rep�rter especial. Ganhou pr�mios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundaci�n por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve �s quintas e aos domingos.
O pau que bateu em Videla n�o bate em Maduro, o que � crime
A manchete do caderno "Mundo" desta Folha, na quarta-feira (29), conta em apenas sete palavras a hist�ria do governo venezuelano: "Chavismo estupra, espanca e mata, diz ONG" (a ONG no caso � a preciosa Human Rights Watch).
O relat�rio da HRW � contundente: "Membros das for�as de seguran�a espancaram severamente pessoas detidas e as torturaram com choques el�tricos, asfixia, agress�o sexual e outras t�cnicas brutais. As for�as de seguran�a tamb�m fizeram uso desproporcional da for�a contra pessoas nas ruas, al�m de terem arbitrariamente detido e processado opositores do governo".
N�o � novidade, ali�s: a ex-procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega D�az, relatou faz pouco ao Tribunal Penal Internacional, com sede em Haia, que 8.000 pessoas foram assassinadas na Venezuela por ordens oficiais, entre 2015 e 2017.
Foram mais de mil pe�as de evid�ncias, levadas a uma corte internacional, "porque n�o h� justi�a na Venezuela. L�, n�o � poss�vel levar � Justi�a os respons�veis por esses crimes", afirmou Ortega D�az.
A ex-procuradora n�o � uma oposicionista de carteirinha. Ao contr�rio, foi nomeada para o cargo pelo pr�prio Hugo Ch�vez e contribuiu para processos contra l�deres opositores. Conhece por dentro, portanto, a m�quina assassina instalada pelo regime de Nicol�s Maduro.
Ambas as den�ncias reproduzem, palavras mais, palavras mais, as acusa��es —igualmente fundamentadas— que se fizeram contra a ditadura argentina (e outras do Cone Sul, nos anos 80).
A diferen�a � que nestes casos, houve uma onda internacional de den�ncias, enquanto, em rela��o � Venezuela, n�o h� um ru�do nem ao menos parecido.
Jos� Miguel Vivanco, diretor da divis�o das Am�ricas da HRW, acrescenta um dado que de novo aproxima as situa��es da Venezuela de hoje e da ditadura argentina de ontem: "N�o se trata de abusos isolados ou excessos ocasionais por agentes de seguran�a p�blica inescrupulosos, mas de uma pr�tica sistem�tica das for�as de seguran�a", o que, como � �bvio, "sugere a responsabilidade dos mais altos n�veis de governo".
Na Argentina, tamb�m era assim, tanto que um punhado de militares, encerrada a ditadura, acabaram na cadeia, inclusive o general Jorge Rafael Videla, o mais longevo dos generais-ditadores do per�odo 1976-1983.
O relativo sil�ncio sobre a viol�ncia na Venezuela de Nicol�s Maduro torna-se ainda mais criminoso quando se conhecem dados sobre a trag�dia econ�mica e social provocada pelo chamado "socialismo do s�culo 21".
Cito apenas meia d�zia de cifras, a maioria relativas � inf�ncia:
1 - A produ��o de alimento cobre apenas 30% das necessidades, o que obviamente, leva a um consumo insuficiente nas classes desfavorecidas (hoje, a maioria).
2 - Como se fosse pouco, a infla��o dos alimentos alcan�a obscenos 900%.
3 - Devido � desnutri��o, 4 em cada 10 dez crian�as n�o crescem corretamente.
4 - A desnutri��o grave atinge 15 em cada 100 crian�as em situa��o de pobreza —cinco delas morrem semanalmente.
5 - Segundo a C�ritas, 280 mil crian�as podem morrer por desnutri��o.
Ou, posto de outra forma, morre-se na Venezuela de Nicol�s Maduro ou pela viol�ncia da repress�o ou pela fome.
No come�o da revolta, ent�o desarmada, dos s�rios contra a ditadura de Bashar al-Assad circulou um cartaz com a bandeira da S�ria e os dizeres "O sil�ncio � um crime de guerra".
O que veio depois do sil�ncio foram os canh�es e a destrui��o da S�ria. Est� se cometendo o mesmo crime de sil�ncio no caso da Venezuela —e o efeito est� sendo igual: a destrui��o do pa�s.
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