![clóvis rossi](http://f.i.uol.com.br/fotografia/2015/05/21/513491-115x150-1.jpeg)
� rep�rter especial. Ganhou pr�mios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundaci�n por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve �s quintas e aos domingos.
Turquia culmina liquida��o da m�dia independente
Murat Cetinmuhurdar - 23.abr.2017/Pal�cio Presidencial/Reuters | ||
![]() |
||
Recep Erdogan, presidente da Turquia, posa durante cerim�nia em Ancara |
O governo de Recep Tayyp Erdogan prepara a liquida��o do pouco que resta de imprensa independente na Turquia, ao julgar, na segunda-feira (19), um grupo de 15 destacados jornalistas, al�m de um ex-chefe de pol�cia e um produtor de filmes.
S�o acusados de participar da prepara��o, promo��o ou comunica��o de mensagens para a cruenta tentativa de golpe de 15 de julho de 2016.
Que tentativas de golpe devam ser punidas ningu�m discute. Mas quando um dos elementos da acusa��o � a "entrega de mensagens subliminares", a� entra-se facilmente no territ�rio do arb�trio, ali�s amplamente preenchido na repress�o que se seguiu ao golpe fracassado.
Entre os jornalistas a serem julgados est�o Mehmet Altan, 64, professor de economia e comentarista pol�tico que escreveu mais de 25 livros; Ahmet Altan, 67, ex-editor-chefe do jornal "Taraf"; Nazli Ilicak, 71, ex-colunista do jornal "Bugun" e autora de v�rios livros sobre a democracia turca; o ex-redator-chefe do jornal "Zaman", Ekrem Dumanli; o ex-redator-chefe do "Today's Zaman", Bulent Kenes; o ex-redator-chefe da "Turkish Review", Abdulkerim Balci; o ex-editor-chefe da revista "Chronicles", Tuncay Opcin.
A inclus�o na lista de jornalistas que trabalharam no "Zaman" e no "Today's Zaman" serve para contar o pano de fundo do julgamento e, mais amplamente, o da repress�o p�s-golpe.
O Zaman e sua vers�o em ingl�s eram ligadas a Fetullah G�len, o pregador islamista exilado nos Estados Unidos. � �poca, apoiavam fortemente Erdogan, enquanto ele era primeiro-ministro e parecia tentar uma proeza in�dita no mundo mu�ulmano: conciliar Isl� e democracia.
Quando Erdogan come�ou a exibir o que o movimento de G�len achava tend�ncias autorit�rias, rompeu com ele, o que se refletiu nas p�ginas dos jornais do grupo, que passaram a ser fortemente cr�ticos ao premi� e, agora, presidente.
Consequ�ncia: as duas publica��es acabaram expropriadas e s�o hoje vozes domesticadas a favor do poder.
� uma clara evid�ncia de que o cerco ao jornalismo come�ou antes da tentativa de golpe. Domar o jornalismo independente passou a fazer parte da luta pelo poder entre o "g�lenismo" e Erdogan.
O golpe foi a culmina��o desse processo. O governo turco acusa o que chama de FETO (Organiza��o de Terror Gulenista, na sigla em turco) pela tentativa de golpe.
Desencadeou em consequ�ncia uma blitz que levou � pris�o milhares de pessoas acusadas de pertencer ao movimento. Mas at� agora s� est� comprovado que ligados ao "Hizmet" (Servi�o), o nome oficial do movimento gulenista, participaram do compl�, mas n�o h� ainda evid�ncias de que ele tenha sido organizado e/ou ordenado pela c�pula do grupo.
A cronologia na madrugada do golpe, ali�s, s� lan�a d�vidas: a primeira informa��o oficial de que o gulenismo era o respons�vel surgiu na ag�ncia oficial Anadolu � 00h05 do s�bado, meia hora antes de que um promotor abrisse a primeira investiga��o sobre o movimento golpista.
Como � poss�vel acusar algu�m antes mesmo de se abrir uma investiga��o?
E s� � 01h39 foram presos os primeiros soldados, que poderiam confirmar quem era o organizador do golpe.
Fica claro que Erdogan j� tinha na mira o movimento de G�len, tanto que milhares de pris�es e demiss�es do servi�o p�blico foram feitas antes de qualquer investiga��o aprofundada.
Parece evidente que o presidente turco preparava-se para se desembara�ar de seu antigo apoiador, agora inimigo mortal, e, por isso, j� tinha a lista dos que eram a ele ligados em diversos setores p�blicos e privados.
Diz, por exemplo, Burak Kadercan, professor-assistente de Estrat�gia e Pol�tica do Col�gio Naval norte-americano: "Erdogan usar� o mote 'seguidores de Fetullah Gulen' como narrativa para refazer � sua imagem os militares, o Judici�rio, a educa��o superior, a burocracia, a m�dia e at� a m�dia social".
O julgamento de segunda-feira dos jornalistas n�o � o �nico momento para demonstrar que essa opera��o est� em marcha: no �mbito pol�tico, Enis Berberoglu, um dos vice-presidente do Partido Republicano do Povo, o principal da oposi��o, foi condenado na quinta-feira (15) a 25 anos de pris�o, por supostamente revelar segredos de Estado (transfer�ncia de armas turcas para radicais que lutam na S�ria).
Berberoglu tamb�m � jornalista, ex-editor-chefe do "Hurriyet", o maior do pa�s e uma rara voz de oposi��o no jornalismo, embora cautelosa como demanda a situa��o.
A pris�o do jornalista provocou mobiliza��es maci�as de protesto.
N�o � o �nico pol�tico preso. H� uma d�zia de outros parlamentares, principalmente do Partido Democr�tico do Povo, representante dos curdos, inclusive o copresidente, Selahattin Demirtas.
Tudo somado, fica demonstrado que n�o � apenas a m�dia que est� sendo sufocada na Turquia, mas a democracia. Com isso, esfarela-se a esperan�a de que Erdogan pudesse conciliar Isl� e democracia.
Livraria da Folha
- Cole��o "Cinema Policial" re�ne quatro filmes de grandes diretores
- Soci�logo discute transforma��es do s�culo 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD re�ne dupla de cl�ssicos de Andrei Tark�vski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade