� rep�rter especial. Ganhou pr�mios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundaci�n por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve �s quintas e aos domingos.
Um pa�s cada vez mais degradado
Marlene Bergamo/Folhapress | ||
Ministro Gilmar Mendes no plen�rio do TSE no �ltimo dia do julgamento que absolveu chapa Dilma-Temer |
A decis�o do TSE sobre a chapa Dilma/Temer tornou ainda mais degradado um ambiente que j� era insalubre antes.
Fico com a desagrad�vel sensa��o de que o Brasil vive um momento similar a um instante da campanha presidencial de 1989, envolvendo o candidato Luiz In�cio Lula da Silva.
A caravana de Lula, que ainda n�o tinha o financiamento da Odebrecht e de outras empreiteiras, voava em avi�es de carreira e ficou retida em um aeroporto do interior do Paran�.
Enquanto isso, seu principal advers�rio, Fernando Collor de Mello, cruzava o pa�s, de cidade em cidade, a bordo de jatinhos (ele, sim, era financiado pelos donos do dinheiro).
Jos� Carlos Espinoza, sindicalista dos metrovi�rios, 2m02 de altura, sobrenome e alma de fil�sofo, seguran�a informal de Lula � �poca, cansou-se da espera, aproximou-se do chefe e disse-lhe:
"Olha, Lula, se tudo der certo, se tudo sair de acordo com o planejado, se nada der errado, n�s estamos � ferrados".
"Ferrados" n�o foi bem a palavra que usou, mas preservemos ao menos um pouco de recato neste pa�s degradado.
Par�ntesis para dizer que, se naquela elei��o, Lula de fato "se ferrou", acabou ganhando em 2002 e o "fil�sofo" Espinoza foi contemplado com a chefia do escrit�rio da Presid�ncia em S�o Paulo. Ningu�m � de ferro.
Volto ao Brasil de 2017. Se Temer tivesse seu mandato cassado pelo TSE, a crise pol�tica estaria encerrada? �bvio que n�o.
Primeiro porque caberia recurso e sabe-se l� por quanto tempo se arrastaria o processo, mantendo-se na Presid�ncia um cidad�o notoriamente inadequado para o cargo.
Se Temer tivesse estofo presidencial, teria sido cogitado em algum momento de sua longa vida p�blica pelo menos para prefeito de sua cidade. Nunca o foi. Logo, jamais algu�m em seu ju�zo perfeito, nele pensaria para presidente da Rep�blica, com ou sem sua amizade com o pessoal da JBS, com ou sem uma penca de amigos encalacrados na Lava Jato.
Mas digamos que a tal "vox populi" fosse ouvida pelo TSE e Temer ca�sse. Fim da crise? N�o.
Haveria, de um lado, o desejo da maioria dos congressistas de manter o privil�gio de escolherem eles, e n�o o eleitorado, o novo presidente. Do outro lado, a press�o de grande parte do p�blico por elei��o direta, o que demandaria uma emenda constitucional de tramita��o demorada, em meio a uma situa��o econ�mico-social desastrosa.
Considerados o poder da rua e o poder dos grandes interesses envolvidos, a l�gica elementar diria que a elei��o seria mesmo indireta.
A�, o risco seria (ou ser�, porque a cabe�a de Temer continua � procura de uma guilhotina) a elei��o de Rodrigo Maia, apontado como favorito de seus pares.
� outra mediocridade como Temer, mas com menos experi�ncia.
Ser� que o Brasil aguentaria tr�s governantes med�ocres em sequ�ncia? N�o d� para esquecer que Dilma Rousseff conduziu o pa�s � mais profunda e prolongada recess�o de sua hist�ria - prova factual de seu despreparo para o cargo.
At� simpatizo com a candidatura do professor Modesto Carvalhosa, que se autolan�ou. � limpo, s�rio, n�o faz parte das seitas que se matam (retoricamente) entre si, aos gritos, turvando o debate.
Mas como dificilmente os parlamentares abrir�o m�o do poder que lhes d� uma vota��o indireta, s� resta repetir Espinoza: "Estamos � ferrados".
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