� rep�rter especial. Ganhou pr�mios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundaci�n por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve �s quintas e aos domingos.
Diretas talvez fossem uma lufada de ar fresco
Diretas-j� n�o � abrir para o Brasil as portas do para�so. Mas pode ser a abertura de uma fresta pela qual entrar�, com sorte, um pouco de ar fresco no sufocante ambiente em que vive o pa�s.
Sublinhe a�, por favor, o "com sorte", porque no Brasil de hoje nada se pode dar como seguro.
Feita essa declara��o de voto, concordo, entretanto, com a bals�mica coluna em que Vinicius Mota adverte, falando das diretas mas tamb�m da reforma da Previd�ncia, que "o Brasil n�o vai acabar nem se salvar amanh�".
Bals�mica porque foi uma necess�ria lufada de sensatez em meio a um debate p�blico viciado por uma gritaria infernal, em meio � qual os contendores se esbofeteiam uns aos outros. Se a conflagra��o verbal estivesse produzindo resultados, ainda seria perdo�vel. Mas n�o est�, como se v� pela putrefa��o do estado da p�tria nesses anos todos de gritaria.
Fica, pois, combinado que a eventual introdu��o das diretas-j� n�o � a pomada-maravilha que curar� todos os infinitos males do Brasil. Mas pode, eventualmente, ter a vantagem de oxigenar o ambiente.
Acaba de acontecer na Fran�a, pa�s em que "resmungar se tornou um modo de vida, uma resposta � 'grandeur' perdida", como escreveu, antes da elei��o de Emmanuel Macron, o excelente colunista do New York Times que � Roger Cohen.
Claro que n�o d� para comparar Brasil e Fran�a nem no atacado nem no varejo das crises mais recentes c� e l�.
Mas d� para torcer para que o momento p�s-eleitoral tenha efeito parecido c� e l�. O momento franc�s est� no seguinte p�, segundo a descri��o de "El Pa�s":
"A chegada ao poder de Emmanuel Macron —um homem jovem para o cargo, quase novato na pol�tica e com um programa europe�sta e liberal— rompe in�rcias e sacode muitas coisas. A Fran�a (...) volta a estar em voga. � 'cool".
J� sei que voc� vai dizer que no Brasil n�o h� nenhum Macron � vista, nenhum jovem que seja potencial candidato, nenhum candidato que seja a promessa de romper in�rcias.
OK, estou de acordo. Mas qual � a alternativa �s diretas? Uma elei��o indireta, ainda mais com esse Congresso desmoralizado, vai desintoxicar o ambiente? Mais ano e meio de Michel Temer devolver� o sorriso � p�tria irritada e exangue?
Elei��o direta � sempre uma chance de rediscutir e redesenhar o pa�s. Se Luiz In�cio Lula da Silva for o eleito, como teme boa parte dos que se op�em �s diretas, faz parte do jogo. Vetar uma elei��o porque pode ser vencida por algu�m que n�o agrade a uma parte do p�blico � vetar a democracia. Ponto.
A �nica forma de evitar a vit�ria de Lula n�o � fugir da elei��o, adiando-a para 2018, mas construir uma candidatura que seja atraente para a maioria.
O problema maior para fazer as diretas-j� � o tempo que, em tese, levar� para aprovar uma emenda constitucional que a autorize. E, mais, a perspectiva de que a emenda tenha a maioria dos votos, mas n�o os suficientes para ser aprovada.
Nesse caso, ter� sido perdido um tempo precioso em um momento em que o estado comatoso do pa�s n�o permite dila��es.
Mas a simples coloca��o das diretas-j� na agenda p�blica abre uma fresta no sufoco e, no m�nimo, permite que se ou�a "boa m�sica", como aconteceu domingo (28) no Rio de Janeiro.
N�o �, repito, a panaceia universal, mas � sempre melhor do que ouvir, noite ap�s noite, os sinistros v�deos dos irm�os Batista e cia.
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