Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Política do país caminha na direção contrária de reformas na economia

Ninguém vai fazer grandes sacrifícios de popularidade pelo mercado se a turma continuar financiando bancada do TikTok

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Nas últimas semanas, os ricos brasileiros fizeram duas coisas: declararam seu amor incondicional por bolsonaristas como Tarcísio de Freitas e pediram que Lula tome medidas de ajuste fiscal impopulares, como a desvinculação entre o piso das aposentadorias e o salário mínimo ou a revisão dos mínimos constitucionais para saúde e educação.

A equipe econômica de Lula parece acreditar que alguma versão dessas medidas é necessária. Nos últimos tempos, a desvinculação na Previdência foi defendida pela ministra do planejamento, Simone Tebet. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, compartilhou no Twitter um texto do economista Braúlio Borges que defende, além da desvinculação na Previdência, que os mínimos constitucionais sejam atrelados a pisos reais de gasto per capita, e não mais à receita.

O PT não gostou de nada disso.

Haddad, um homem branco, de terno azul, está sentado diante de um microfone de mesa, ao lado de Gleisi, uma mulher branca, cabelos loiros e curtos, com uma blusa preta. Ao fundo, um cinegrafista e mulheres sentadas
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) e a deputada e presidente do PT, Gleisi Hoffmann, durante encontro com deputados federais - Edu Andrade - 08.fev.2023 /Divulgação/Ascom/MF

Em geral, esta coluna defende a equipe econômica de ataques vindos da esquerda. Continuo defendendo. Mas, neste caso, também entendo a resistência do PT. As desvinculações são impopulares.

Se os defensores das desvinculações já estiverem fechados com o bolsonarismo, os petistas têm todo o direito de perguntar ao establishment brasileiro o seguinte: ô bonitão, você está me pedindo para tomar as medidas mais impopulares do seu programa (que não estavam no meu) para te ajudar a ganhar a eleição sem mim, em aliança com uma rapaziada que quer me colocar no pau de arara?

Afinal, os ricos não estão exigindo que seus bolsonaristas de estimação defendam as medidas que exigem de Lula. Tanto quanto eu sei, nem Tarcísio nem Caiado, para não falar da família Bolsonaro ou de Silas Malafaia, declararam apoio à desvinculação do piso da Previdência ou à revisão dos mínimos constitucionais.

Notem bem: estou falando de declaração de apoio com efeitos reais, que circule nos grupos de WhatsApp de igreja de periferia e lhes custe popularidade. Nada de repetição da campanha de 2018, quando Bolsonaro exibia os discursos de Guedes na Faria Lima e os escondia do povão.

Da mesma forma, ninguém vai fazer grandes sacrifícios de popularidade pelo mercado se a turma continuar financiando bancada do TikTok que vai para o plenário gravar vídeo com fake news. Digamos que hoje Lula decida que quer negociar novas grandes medidas de ajuste fiscal. Se Lula quiser falar com uma direita adulta, que consiga levar seus radicais na coleira, deve ligar para quem?

Aliás, na semana passada mostramos aqui que o ajuste fiscal de Tarcísio é só uma versão fraca do ajuste de Haddad. Bota fraca nisso: nos últimos dias, o governador de São Paulo anunciou que as igrejas em São Paulo terão isenção de ICMS em importações.

E convenhamos: se Lula hoje fizer tudo que o mercado quer, perder popularidade e passar a faixa para Tarcísio em 2027, os amigos do mercado na imprensa dirão que os bons resultados da economia daí em diante terão sido resultado da isenção de ICMS para as igrejas de São Paulo em 2024.

Se a economia precisar de novas grandes reformas, lamento, a política brasileira não está caminhando na direção de torná-las possíveis. Seria necessário algo como o pacto de Moncloa, que garantiu a democratização da Espanha na década de 70. Mas ninguém do lado de cá vai topar Moncloa se a turma de lá ainda estiver sentada no colo do Franco.

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