Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra) e autor de "PT, uma História".

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Celso Rocha de Barros

Cada um que sustente sua igreja

Governo Lula fez bem em rever benefício concedido na gestão de Bolsonaro

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Em 2022, Jair Bolsonaro te fez ajudar a pagar o imposto de todos os líderes religiosos do Brasil, inclusive de quem não é da sua igreja, inclusive se você for ateu. Na semana passada, Lula livrou você dessa obrigação.

Pouco antes da eleição de 2022, Bolsonaro dispensou os líderes religiosos de pagar contribuição previdenciária. Com medo de perder, Jair tentou comprar o apoio de líderes religiosos, na esperança de que fizessem campanha para ele junto a seus fiéis.

Enquanto fazia isso, Jair também gastava uma fortuna em dinheiro público para tentar se reeleger. Isto é, aumentou o rombo que nós, brasileiros, precisamos cobrir com nossos impostos.

Fiéis em templo na região metropolitana de São Paulo - Eduardo Knapp - 23.jul.21/Folhapress

Faça a conta comigo: se a conta a ser dividida aumentou, e os líderes religiosos foram dispensados de pagar, quem sobrou vai ter que pagar mais.

Sempre que você ler no jornal "Governo isentou X de pagar impostos", leia: "De agora em diante, todos nós vamos ter que pagar os impostos que X pagava".

Afinal, no dia seguinte do decreto da isenção, o governo continuará com as mesmas obrigações: vai ter que pagar os mesmos salários para os funcionários públicos, as mesmas aposentadorias, os mesmos hospitais, as mesmas estradas, os mesmos quartéis, os mesmos juros da dívida, o mesmo Bolsa Família.

A única diferença é que X não vai mais contribuir com essa vaquinha. Logo, todo mundo vai ter que pagar um pouco mais para que X não pague nada.

Em alguns casos, isenções fiscais podem ser justificáveis. Mas os economistas concordam que elas precisam ser adotadas com muito cuidado, após muitos estudos que comprovem que terão efeitos positivos sobre o crescimento da economia.

Em geral, é mutreta.

Não me entenda mal: todo mundo tem o direito de dar dinheiro para a igreja que frequenta. Eu dou para a minha. Eu quero que ela continue lá, que pague a conta de luz, que alguém faça a limpeza periodicamente, que alguém seja pago para tocar órgão.

Mas cada um tem que sustentar sua própria igreja. Não roube meu imposto para chamar de seu dízimo.

Se você acha que seu pastor deveria ganhar mais, aumente suas oferendas durante o culto. O dinheiro é seu, você faz o que quiser com ele. Se você acha que o Malafaia precisa de um carro novo, dê seu carro para o Malafaia. Se você acha que o Edir Macedo precisa de uma nova casa, dê a ele a sua.

Mas o que Bolsonaro fez foi colocar o resto dos brasileiros para pagar os impostos do Malafaia. Aí não, filho. A maioria dos brasileiros não frequenta a mesma igreja que o Silas. E mesmo as que frequentam provavelmente preferem que o dinheiro do governo vá para o posto médico de seu bairro.

Portanto, Lula fez bem em revogar a isenção para líderes religiosos.

Os bolsonaristas disseram que Lula está perseguindo os cristãos. É mentira.

Só o que aconteceu foi o seguinte: pessoas cuja profissão é propagar a fé cristã e administrar seus rituais –uma profissão belíssima, a propósito– vão ter que contribuir para a construção de escolas e hospitais do mesmo jeito que os outros cidadãos que ganham a mesma coisa que eles.

E, talvez por castigo divino após ter tentado subornar todas as lideranças cristãs brasileiras ao mesmo tempo, Bolsonaro perdeu a eleição.

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