� membro da ABL. Come�ou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. � autor de 17 romances e diversas adapta��es de cl�ssicos.
Cena carioca
RIO DE JANEIRO - Na rua Santo Amaro, o velho High Life engolia a multid�o em sua goela iluminada pelas gambiarras. Fila de povo que se estendia at� a Gl�ria. Ficamos no fim. Mas Valdomiro era homem de expedientes. Bartolomeu j� se divertia desde o momento em que comprara os ingressos, n�o tinha pressa, saboreava lentamente o Carnaval. Valdomiro n�o, queria entrar logo.
- N�o � preciso, Valdomiro, esperemos aqui mesmo vendo as coisas.
Ver as coisas era ver a rua, a ilumina��o, os bonecos de papel�o em cima dos postes, os p�ndegos isolados que passavam. Um sujeito de camisola levava um penico na m�o, cheio de vinho frisante, um peda�o de paio dentro. Bartolomeu ria, Valdomiro achava aquilo uma porcaria, prova da decad�ncia dos tempos. Antigamente, os homens levavam rel�quias que ofereciam � adora��o da multid�o genuflexa. Hoje se oferecia aquilo. E o povo, envinhado de fornica��o, ria, achava gra�a.
Para fugir de tais espet�culos, ou porque tivesse pressa em entrar nos sal�es, Valdomiro arrastou-nos at� a porta sob protestos gerais. Ele � frente, rompendo a turba, Bartolomeu cerrava o pelot�o, distribuindo sorrisos e escusas. Os homens botavam olhos safados em cima de minha m�e.
J� pr�ximo ao port�o, Bartolomeu encontrou um colega de reparti��o, o Souza, escritur�rio ainda, muito magrinho e enfezado, cara de turco. Vestia refulgente legion�rio estrangeiro, cal�as azuis, botinas e blusa branca, chap�u com aquele paninho vermelho ca�do sobre a nuca, a proteger-lhe de escaldantes s�is africanos.
Trocaram cumprimentos, sorrisos, riram muito, por nada mesmo, apenas porque se encontravam. Ficamos sabendo, pelo legion�rio, que o apelido de Bartolomeu na reparti��o era Cu-de-ferro.
O porteiro conhecia Valdomiro:
- Pode entrar, a casa � sua. Nossos tempos de Balalaika!
Livraria da Folha
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