� membro da ABL. Come�ou sua carreira no jornalismo em 1952 no 'Jornal do Brasil'. � autor de 17 romances e diversas adapta��es de cl�ssicos.
O barco
Flavio Sampaio/Divulga��o | ||
RIO DE JANEIRO - O mais importante � o cheiro. N�o passa de um velho barco, descascado, cheio de rachas que deixam entrar �gua. N�o � s�lido nem belo, embora navegue bem: parece um ata�de desbotado, sem a parte de cima. Tem tr�s bancos, sendo que o da popa � m�vel, podendo ser removido para a coloca��o de um motor. N�o passa de uma t�bua encaixada nas laterais do barco. Parece um embri�o e uma ru�na. Mas h� o cheiro. Cheiro de mar�s, areias molhadas, ventos e ondas.
Foi numa tarde que decidi compr�-lo. Indicaram-me os barcos aportados no canal, eram pesados e enormes. N�o me serviam. Num bar onde fui tomar um trago, ouvi dizer que, pr�ximo ao Forte, na enseada que marca o fim da praia, vendiam barcos:
—Procure o Vav�. Ele tem o que o senhor deseja.
Aproveitavam o cair da tarde para jogar suas redes. Um velho pescador, apoiado numa canoa em escombros, apontou em dire��o ao largo:
— Ele est� ali, jogando a rede, depois daquelas pedras.
— Demora muito?
—N�o. Deve estar de volta, por causa da mar�.
Caminhei pela areia �spera. Ali funcionava uma col�nia de pescadores, a praia estava cheia de detritos, peda�os de redes e barcos que haviam entrado em decomposi��o. Sentei-me para esperar.
Vi a silhueta de um barco surgindo das pedras que formavam uma esp�cie de ilha � minha frente. Os remos eram suspensos com cansa�o. O remador procurava cortar a correnteza. Teria de vencer o canal, estreito, e logo entraria no remanso das �guas que o trariam de volta.
O pescador apontou:
–Ai vem o Vav�.
� dist�ncia, o barco parecia uma t�bua perdida, resto de naufr�gio. S� parecia barco quando os remos faziam brilhar, ao sol da tarde, as suas p�s encharcadas. Bem, a� tenho o meu barco.
Angela vinha vindo, trazida pela tarde. Apertou-me a m�o.
— Como � bonito!
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