Os negócios das milícias do Rio se sustentam num tripé formado por poder, violência e corrupção. O caso Marielle Franco e o exemplo da família Brazão mostram como o loteamento da máquina pública, o assassinato de desafetos e a cooptação de órgãos de segurança se tornaram moedas correntes nessas atividades.
Os milicianos se incorporaram à paisagem política do estado. O domínio de territórios populosos permitiu que os criminosos exercessem uma espécie de monopólio eleitoral nessas regiões e ganhassem acesso facilitado aos mandatos usados para ampliar sua influência.
Chiquinho Brazão soube aproveitar o cargo de vereador para cuidar de seus interesses. Na investigação sobre a morte de Marielle, a PF lembrou que o então vereador presidiu a Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara do Rio e patrocinou projetos para facilitar a ocupação de terrenos invadidos e explorados pela família.
O clã espalhou tentáculos por órgãos de licenciamento e departamentos que deveriam fiscalizar aquelas regiões. Em seus gabinetes, abrigou sócios, operadores e capangas que entravam em cena quando o poder político não dava conta do negócio. Quem cedeu a arma usada para matar Marielle, segundo a PF, foi um policial militar lotado no gabinete de Domingos Brazão no Tribunal de Contas do Estado.
A proteção dos negócios dependia de um trato com as polícias, de acordo com as investigações. Ronnie Lessa, que confessou o assassinato de Marielle, afirmou que os Brazão acertaram o acobertamento do crime com o então chefe da Polícia Civil. Para o matador, um ajuste "pré-pago" sairia mais barato do que uma extorsão posterior.
O relatório da Polícia Federal repisa conhecidas suspeitas de que as quadrilhas pagam mesadas às delegacias do Rio, além de propinas pontuais para blindar integrantes desses grupos. O problema é que a investigação ainda não mostrou as provas desse sistema, o que seria essencial para desfazer a infiltração do aparelho do Estado pelos criminosos.
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