Jair Bolsonaro é um político que gosta de lavar roupa suja em público. Quando Tarcísio de Freitas apareceu numa fotografia ao lado de Fernando Haddad, o ex-presidente reclamou das "escorregadas" do aliado. Agora, ele afirmou que Valdemar Costa Neto poderia implodir seu partido, o PL, por dizer que Lula tem prestígio e popularidade.
Bolsonaro não vai romper com Tarcísio nem trocar de legenda. O ex-presidente simula crises desse tipo para usá-las como mecanismos de disciplina em seu grupo político.
Fundado no antipetismo, o bolsonarismo trata como problema qualquer exibição de civilidade entre seus líderes e um governo de esquerda. Pela lógica, ficaria difícil sustentar o discurso de que o PT é um inimigo terrível e um perigo para o país quando figuras da direita confraternizam com medalhões rivais.
Para forçar uma distância, Bolsonaro recorre ao constrangimento. O ex-presidente ajuda a disseminar denúncias de traição por entender que, em momentos de aperto, os políticos de seu campo se sentem obrigados a fazer declarações de fidelidade e buscar proteção sob suas asas.
A ameaça funcionou no caso de Valdemar porque, quando falou em implosão, o ex-presidente sugeriu que ele e dezenas de parlamentares poderiam deixar o PL, murchando o poder da sigla. O presidente do partido entendeu: procurou Bolsonaro para pedir desculpas pelos comentários sobre Lula e fez circular a informação de que seria mais discreto.
O que Bolsonaro cobra de aliados é lealdade a uma plataforma incompatível com uma política pragmática. Um governador depende de uma relação amistosa com o Planalto, e um presidente de partido precisa da máquina federal para saciar seu apetite. Bolsonaro prefere que Valdemar faça seus negócios em silêncio.
O balé é acidentado, mas os dois continuam e continuarão dançando. Em 2018, Bolsonaro se referiu a Valdemar como "corrupto e condenado". Três anos depois, estava filiado ao PL. Hoje, o partido paga os advogados e o salário do ex-presidente.
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