Depois de encontrar o presidente uruguaio, Lula afirmou que sua relação com líderes políticos de outros países não terá viés ideológico. "Os presidentes não precisam pensar como eu", declarou o brasileiro.
Um dos objetivos da viagem inaugural do terceiro governo Lula foi um ajuste simbólico na diplomacia brasileira. Em 24 horas, o petista sorriu ao lado do esquerdista Alberto Fernández (a quem chamou de "companheiro e amigo") na Argentina e posou para fotos com Luis Lacalle Pou, que comanda um governo de centro-direita no Uruguai.
Com pouca sutileza, Lula quis demarcar diferenças com um antecessor que escolheu ofender qualquer país que pendesse para o centro ou para a esquerda. Em Buenos Aires, o petista pediu desculpas aos argentinos "por todas as grosserias" de Jair Bolsonaro e ofereceu aos uruguaios um compromisso de cooperação independente de coloração partidária.
O movimento teve recepção diferente dos dois lados da fronteira. Com os argentinos, Lula falou a mesma língua sobre integração regional, interesses comerciais e o Mercosul. O ambiente parecia tão confortável que o petista deu combustível ao incipiente plano de criar uma moeda comum para o comércio.
No Uruguai, as exibições foram menos harmônicas. Lacalle Pou reafirmou em público o desejo do Uruguai de negociar acordos com a China —mesmo sabendo que o Brasil é contra a ideia. Lula reconheceu seu direito de buscar ganhos comerciais e apenas sugeriu que o Mercosul converse em bloco com o país asiático, num futuro ainda incerto.
Lula sabe que o valor de seu capital diplomático varia de acordo com o terreno. Ao menos nas etapas iniciais de seu retorno ao poder, a política externa do governo terá mais força quando algumas afinidades políticas estiverem presentes.
A eficácia deve ser testada na viagem de Lula aos EUA, em fevereiro. Com Joe Biden, o brasileiro tentará tirar proveito de uma agenda comum que tem o objetivo de denunciar e isolar a ameaça da extrema direita.
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