Nesta terça-feira (16), o Ministério da Saúde anunciou que, a partir de sábado (20), todos os brasileiros com mais de 18 anos poderão tomar uma terceira dose da vacina contra a Covid. E quem tomou a dose única da Janssen deve tomar uma segunda dose. Como comentei em julho que não precisaríamos de novas vacinas e tendo criticado regularmente algumas posturas do ministério por aqui –e deixarem mais 1,2 milhão de testes estragarem novamente não ajuda–, seria importante falar sobre o acerto dessa decisão. E por que é importante que você tome sua dose de reforço.
De julho para cá, enfrentamos a variante delta, tão transmissível que encontra bem quem não recebeu ou não respondeu tão bem à vacinação. E observamos a queda da proteção entre os idosos vacinados em países que vacinaram antes, como Reino Unido e Israel. Estudos nesses países estão mostrando que uma dose de reforço entre os mais idosos foi suficiente para aumentar a eficácia da vacinação para mais de 90%. O que deve durar pelo menos 9 meses. Uma eficácia suficiente para ter um bom impacto inclusive na transmissão do vírus. Talvez esse regime com uma terceira dose meses depois devesse ser o padrão.
Qual o regime ideal de doses e tempo? Qual combinação impede a transmissão do vírus? Não sabemos, esse conhecimento só vem com a prática. Para termos vacinas seguras e eficazes ainda em 2020, seu desenvolvimento foi focado. Conforme centros de pesquisa e farmacêuticas avançaram com candidatas promissoras, precisavam escolher o regime de doses que testariam. Otimizando volume para render mais aplicações e despertar uma resposta imune robusta, mas não a ponto de causar reações inflamatórias graves. E o intervalo de tempo para agilizar a vacinação, mas dando tempo para o sistema imune trabalhar.
Uma vez escolhidos os parâmetros, o custo não compensa explorar outras opções. Com a vacina de Oxford/AstraZeneca, se descobriu acidentalmente que uma dose inicial com menor volume poderia aumentar a eficácia. Mesmo assim, o estudo em Viana, no Espírito Santo, vai levar todo o 2021 para confirmar resultados com meia dose. Talvez pudéssemos ter economizado milhões de doses e de dólares, mas o tempo e a segurança do que já havia sido testado eram prioridade. Seguimos usando duas doses cheias enquanto isso.
Agora vemos na prática como as vacinas se comportam. Quando a Organização Mundial de Saúde e o governo dos EUA anunciaram que financiaram vacinas, pediram uma eficácia de ao menos 50% na proteção contra a doença. Mas conforme elas entregaram isso e muito mais, o que se espera das vacinas mudou. Ao invés de continuarem com medidas de isolamento, muitos países relaxam as medidas e contam com a vacinação para impedir o vírus. Mas para impedir a delta, precisamos de mais de 85% da população com duas doses, de acordo com a nova onda de casos nos países europeus. E devemos precisar de uma dose de reforço.
Aqui no Brasil, onde o fechamento é um tabu ainda maior do que a vacinação para o governo federal, é imperativo que cheguemos próximos de 90% da população com pelo menos duas doses. O que envolve vacinar crianças também. Essa precisa ser a prioridade mais urgente. Enquanto isso, e talvez apesar disso, se você está entre os que já tomaram as duas doses, uma terceira dose de reforço traz uma proteção que pode fazer muita diferença. Ainda mais por aqui, se o que acontece na Europa se repetir no Brasil em 2022, como aconteceu em ondas passadas da Covid.
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