A língua da mentira nem teve tempo de lamber as feridas da derrota na Câmara. Mal o voto impresso foi arquivado, Bolsonaro tem uma nova bandeira —uma nova bandalha— para enrolar os brasileiros, conspirar contra as instituições, gastar um bilhão com o centrão e fugir dos problemas concretos que afligem o país (desemprego, carestia, vacinação atrasada).
O espetáculo do golpe não pode parar. Novo projeto de lei será enviado ao Congresso proibindo que empresas de tecnologia e redes sociais removam conteúdo de suas páginas sem decisão judicial. O presidente quer legislar sobre o direito de mentir, difamar, ofender, destilar ódio, praticar crime. Sem ser responsabilizado, invocando uma liberdade de expressão só dele e de seus milicianos (tudo bem aí, Roberto Jefferson?). Exatamente o que Bolsonaro vem fazendo na política há mais de 30 anos e mesmo antes de entrar nela, quando era um baderneiro nas fileiras do Exército.
A CPI da Covid poderá indiciar o ex-tenente pelos crimes de curandeirismo, charlatanismo e publicidade enganosa. As definições de charlatão consultadas no meu velho dicionário Caldas Aulete —“empírico, que pretende possuir certos segredos maravilhosos; o que explora a credulidade pública; impostor, intrujão, pantomimeiro”— determinam as atitudes de Bolsonaro não só no combate à pandemia como na condução do governo.
As fraudes nas eleições de 2018 ou nas de 2022 não passam disso: um segredo maravilhoso. Viajando de vilarejo em vilarejo com suas carroças, os curandeiros se utilizavam —ainda se utilizam— de xaropadas e mesinhas de ervas e plantas para curar os males nacionais: quebranto, cobreiro, espinhela caída, erisipela, chiado no peito, dor de dente e de barriga, verruga, asma, epilepsia, hemorroida, vento virado, mau-olhado. Quem sabe até o soluço presidencial.
Há muito mais virtude e verdade numa tisana de garrafa do que num tuíte de Bolsonaro.
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