![alexandra forbes](http://f.i.uol.com.br/fotografia/2015/05/20/513448-115x150-1.jpeg)
� jornalista gastron�mica, 'foodtrotter' e autora de 'Jantares de Mesa e Cama'. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
Inimigo da autoestima
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Interface do aplicativo Instagram |
Dos meus muitos v�cios, o Instagram tornou-se o pior. Acordo e olho as fotos postadas. Tomo caf� e volto a olhar. E dali em diante � assim, at� a hora de dormir.
Na rede, sigo majoritariamente gente que adora comer e beber, mas tamb�m amigas da turma do suco verde. Pessoas que fazem muito exerc�cio e fogem de p�o e de doces como o diabo da cruz.
S�bado passado, acordei �s dez horas sem vontade de sair da cama. O primeiro post que vi era da minha chefe, de sorris�o largo, terminando um circuito com seu personal trainer.
Uma amiga minha posta todo dia imagens de seu caf� da manh�, que sempre inclui toranja e vitaminas –e nunquinha um p�o com manteiga.
Outra virou "health coach" (conselheira de sa�de, em tradu��o livre) e posta os palitos de pepino e cenoura que os filhos comem no lanche, suas mil receitas "low-carb" e selfies em que aparece sarada, de biqu�ni, ou pendurada de ponta-cabe�a fazendo uma modalidade a�rea de ioga.
Sofro, confesso. Pergunto-me: "Por que n�o corro no parque cedinho nem encaro um suco verde?" Fazendo ioga, sou rid�cula.
Meus esportes favoritos? Pingue-pongue e sinuca. Sofreria ainda mais se tivesse que ver selfies de gatas malhadas, magras e explodindo de felicidade –felizmente, no meu "feed" de postagens predominam vinhos e comidas.
Como eu, a maioria sofre. Estudo divulgado no m�s passado pelo instituto ingl�s Royal Society for Public Health comprova que "as pessoas est�o vivenciando (no Instagram) um fluxo quase infinito de experi�ncias alheias que podem fazer-lhes sentir como se estivessem perdendo o bom da vida".
H� uns dias, o The New York Times abordou o tema na reportagem "Why 'Radical Body Love' Is Thriving on Instagram ("Porque o amor radical ao pr�prio corpo est� prosperando no Instagram", em tradu��o livre).
O jornal narra a ascens�o fulminante de Tess Holliday (@tessholliday, com 1,4 milh�es de seguidores), a modelo gorda mais famosa dos Estados Unidos. Obesa, sexy e com rosto lindo, ela posta fotos em que aparece seminua, fazendo caras e bocas e amando seu corpo.
Invejo a inabal�vel autoestima dela, assim como o autocontrole das minhas amigas que almo�am sementes no vapor e malham todos os dias.
Da mesma forma que meus seguidores sonham em replicar minhas comilan�as pelo mundo e cobi�am os vinhos que bebo (s�o eles mesmos que dizem isso!).
A grama sempre � mais verde no quintal do vizinho. E o Instagram nos joga isso na cara sem d�.
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