![alexandra forbes](http://f.i.uol.com.br/fotografia/2015/05/20/513448-115x150-1.jpeg)
� jornalista gastron�mica, 'foodtrotter' e autora de 'Jantares de Mesa e Cama'. Escreve aos domingos, a cada duas semanas.
A agroind�stria e o bem-estar animal
Metade dos antibi�ticos vendidos nos Estados Unidos � administrada em animais, especialmente aqueles confinados em jaulas e gaiolas pela agroind�stria, como profilaxia.
Esses rem�dios podem passar para a carne, o leite e os ovos consumidos por humanos, e para seus corpos, tornando-se menos eficazes na hora de tratar doen�as (as bact�rias transformam-se para resistirem ao rem�dio ao qual que j� foram expostas). Quem diz � o escritor e jornalista Mark Bittman, que depois de anos assinando uma coluna sobre comida no jornal "The New York Times" pediu as contas para dedicar-se em tempo integral � advocacia em prol de alimentos s�os.
No Brasil, esse n�mero n�o � divulgado, mas sabe-se que quase todo o gado toma antibi�ticos como profilaxia, em maior ou menor quantidade. Peixes de criat�rio, porcos e galinhas, mais ainda, porque, em sua maioria, vivem engaiolados em condi��es nada saud�veis e propensas ao alastramento de doen�as.
O desagrad�vel tema da crueldade a que s�o submetidos esses bichos pela agroind�stria –e os efeitos dos maus tratos no produto final que acaba na nossa cozinha– entrou em pauta h� anos na Am�rica do Norte e na Europa mas aqui quase nunca � discutido.
Chefs famosos vivem pregando o uso de ingredientes org�nicos, o consumo de carnes de animais criados soltos e sem rem�dios e peixes selvagens pescados com consci�ncia, mas o discurso deles � como agulha no palheiro. Perde-se perante a monumental ind�stria aliment�cia e seus n�meros nos bilh�es.
A verdade � que mudan�as significativas na maneira com que produzimos e consumimos comida s� acontecem a for�a, quando os grandes players usam seu peso e influ�ncia.
O melhor exemplo foi o an�ncio do McDonald's americano, no m�s passado, de que deixar� a partir do ano que vem, gradualmente, de comprar ovos de galinhas criadas em gaiolas (cada uma passa a vida em um espa�o equivalente a um papel tamanho A4).
A rede de fast food consome 4% do total dos ovos produzidos nos Estados Unidos e no Canad�. A agroind�stria ser� obrigada, portanto, a ouvir e fazer mudan�as, instalando galinheiros mais c�modos e maiores.
O Mc Donald's n�o faz mais do que seguir a tend�ncia mundial. Al�m de banirem as gaiolas de galinhas, muitas empresas de alimenta��o nos Estados Unidos, inclusive Subway e Burger King, prometeram parar de comprar carne su�na de produtores que criam as porcas nas chamadas gaiolas de gesta��o. Essas gaiolas de porcas foram banidas da Uni�o Europeia em 2013 e se tornar�o ilegais no Canad� e na Nova Zel�ndia at� 2017.
O Brasil est� atrasado e aqui mal se fala nesse assunto tabu. Algumas iniciativas fogem � regra. O Mapa (Minist�rio da Agricultura, Pecu�ria e Abastecimento) assinou acordo em novembro em que se compromete a ajudar suinocultores a melhorarem suas pr�ticas e defasarem o sistema de gaiolas.
O Walmart premia anualmente empresas que comprovem a implanta��o de medidas que minimizem os danos ao meio ambiente e/ou melhorem as condi��es de cria��o de animais.
Como recompensa, os produtos premiados s�o promovidos, aumentando consideravelmente as vendas na rede de hipermercados.
Um exemplo: a maionese Hellmann's, da Unilever Brasil, incentiva os fornecedores de �leo de soja certificado e os produtores de ovos de galinhas criadas soltas.
Segundo o Walmart, a JBS, maior vendedora mundial de carne bovina –quem diria!– "atuou em toda a cadeia produtiva do hamb�rguer bovino Friboi, com a��es para melhoria do monitoramento socioambiental dos fornecedores de gado (...) e para ado��o de cuidados visando o bem-estar animal".
� um come�o, mas a JBS, como outras gigantes da pecu�ria nacional, ainda tem muito o que melhorar. A empresa j� foi impedida mais de uma vez de exportar por detectarem em lotes de carne quantidades de verm�fugo acima do tolerado por pa�ses como R�ssia e Estados Unidos.
O tema, al�m de �rido, envolve in�meras outras vari�veis –desde o fato de cria��es de gado contribu�rem mais at� do que carros, caminh�es e avi�es somados para o efeito estufa, pelo metano que soltam na atmosfera, aos milhares de quil�metros quadrados de floresta derrubados anualmente para fazerem pastos.
S� que, enquanto o consumidor n�o se importar e a grande imprensa pouco reportar, nada vai mudar. Comer e comprar comida n�o s�o atos inconsequentes. Pense nisso na pr�xima vez que fritar ou ovo ou se deparar com uma geladeira repleta de carne industrializada no seu supermercado.
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