� economista, cofundadora da Rede Meu Rio e diretora da organiza��o Nossas. Curadora do blog #Agora�QueS�oElas. Escreve �s segundas, a cada duas semanas
Uma coluna para Bolsonaro
Reprodu��o | ||
O deputado Jair Bolsonaro � batizado no rio Jord�o, em Israel, em maio de 2016 |
Fui convidada para escrever quinzenalmente na Folha. E n�o sei se existe a� um fosso de g�nero, mas para mim o convite foi carregad�ssimo de culpa.
Tem tanta gente que deveria ter uma coluna. Tantas mulheres com hist�rias e perspectivas mais �nicas do que as minhas. Tantas escritoras e jornalistas que escrevem melhor do que eu. Tantas amigas pretas que tentam suplantar as barreiras que se apresentam n�o s� �s mulheres, mas tamb�m, em maior medida, aos pretos e aos pobres.
Conversei com algumas pessoas. Aceita, me disseram. Sempre vai ter algu�m que poderia usar esse espa�o melhor do que voc�. Mas olha: uma mulher, menos de 30 anos, na Folha, tamb�m n�o � todo dia, n�o. E voc� tem coisas pra dizer. Inclusive sobre a pr�pria Folha.
Todo mundo tem coisas pra dizer. Ali�s, todo mundo diz coisas, o tempo todo. � curioso que na sociedade do Facebook a Folha tenha -ou � impress�o minha?- cada vez mais colunas de opini�o em rela��o ao n�mero de reportagens. Na era da not�cia falsa, do meme vendido como fonte, mas tamb�m da m�dia independente, o jornal certamente perdeu seu lugar de veiculador de verdades absolutas sobre o mundo. Curiosamente, ele segue conferindo peso e visibilidade a certas opini�es, no meio do mar de text�es que � a timeline. Mas talvez esse papel de curador poderoso de pontos de vista tamb�m esteja em xeque.
Exemplifico: durante as elei��es americanas, Donald Trump utilizou uma assustadora estrat�gia de an�lise de dados. Com base em respostas a enquetes de Facebook, nossas curtidas e descurtidas, e outras informa��es detidas por empresas privadas, a consultoria Cambridge Analytics tra�ou um perfil psicol�gico de cada um dos eleitores. Foi com base nesse perfil que Trump escolheu qual ponto de vista apresentar para cada pessoa.
Suas opini�es errantes foram exibidas n�o no jornal, e sim no espa�o fragmentado e perec�vel do tweet ou do status de Facebook, apelando para grupos e bolhas de perfis psicol�gicos distintos.
Lendo sobre a Cambridge Analytics, tive um arrepio profundo. De repente, eu sabia quem deveria ter uma coluna de opini�o na Folha. O jornal � a anti-timeline, a pra�a semip�blica onde o algoritmo ainda tem a cara de um editor implac�vel e o mesmo texto � servido para todos os leitores, inclusive os que discordam, inclusive os que concordam. A coluna � uma vitrine que escancara as contradi��es de quem vai morfando suas vis�es de mundo para deix�-las ao gosto do fregu�s. E quem seria esse mutante, aqui no Brasil? Dif�cil n�o pensar em Jair Bolsonaro, aquele que respeita mulheres, mas s� te estupra se voc� merecer, o cat�lico que � batizado por um pastor e casado por Silas Malafaia, o homem que muda de opini�o sem perder o reacionarismo.
Pe�o perd�o aos e-leitores, portanto, por estar ocupando um espa�o que claramente deveria ser de Bolsonaro. Vamos ter que encontrar outras formas de obrig�-lo a manter alguma coer�ncia em seu discurso de �dio, porque 2018 est� logo ali. Enquanto isso, prometo usar a coluna para falar desse Brasil maluco, das suas cidades (onde a resist�ncia aos Bolsonaros todos j� come�ou), da minha gera��o e suas esperan�as, e do que mais surgir durante o per�odo em que terei o privil�gio da sua aten��o. E se a coluna ficar ruim, pode reclamar na timeline.
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