� senador pelo PSDB-MG. Foi candidato � Presid�ncia em 2014 e governador de Minas entre 2003 e 2010. � formado em economia pela PUC-MG.
Nobel reacende em n�s aquilo que nos inspira e mobiliza
O grande artista � aquele que sabe expressar aquilo que est� dentro de n�s e que, muitas vezes, nem sabemos nomear. Na literatura, na pintura, nas artes c�nicas ou na m�sica, a verdadeira arte dialoga, simultaneamente, com o seu tempo e com cada indiv�duo. Ela pertence a todos, sem jamais deixar de ser um patrim�nio �nico de cada pessoa.
� neste sentido que se projeta a obra de Bob Dylan. De um lado, a capacidade de traduzir para o coletivo o impacto e as incertezas de tempos de mudan�a. De outro, a conex�o com os sentimentos mais �ntimos de homens e mulheres do mundo todo. E tudo isso em forma de can��es e letras inesquec�veis.
A dimens�o da obra pode ser medida pela intensidade da repercuss�o do Pr�mio Nobel. De alguma forma, toda uma gera��o se sentiu reconhecida em um inequ�voco testemunho de como as m�sicas do poeta ultrapassaram fronteiras e vocalizaram, com precis�o, as ang�stias de milh�es, especialmente jovens, em diferentes pa�ses.
O pr�mio dado a Bob Dylan revigora o debate sobre a import�ncia das palavras na vida contempor�nea. A trajet�ria do artista � conhecida. O fato � que sua carreira, especialmente no in�cio, simboliza muito do que os anos 60 e 70 impuseram como pauta �s sociedades mais progressistas: uma luta ferrenha a favor dos movimentos civis, dos direitos humanos, do feminismo, do ativismo negro, da paz.
Trata-se de uma agenda que n�o envelheceu, ao contr�rio, mostra-se cada vez mais atual e necess�ria. Neste planeta conturbado por guerras civis, intoler�ncia, viol�ncia contra povos, ra�as e g�neros, imerso em contradi��es e desigualdades, a luta contra toda e qualquer forma de injusti�a precisa ser intensa, permanente.
Hoje, muito do que foi conquistado em termos de democracia e civiliza��o se v� em risco com a propaga��o de ide�rios pouco afeitos ao contradit�rio, ao debate de ideias. Em �poca de radicalismo e ceticismo, a cultura tem papel fundamental a cumprir. Mais arte, mais diversidade, mais pensamento cr�tico, mais compromisso com o que � de todos. Mais respeito �s diferen�as. Menos individualismo.
Em uma de suas can��es mais conhecidas, Dylan pergunta: "quantas estradas um homem deve percorrer antes que possam cham�-lo de homem?". O caminho do artista est� exposto numa obra estupenda onde brilha uma densidade po�tica refinada e, ainda assim, popular. � sintom�tico que ele continue na ativa, aos 75 anos, fazendo shows, produzindo. As pedras que rolam n�o criam musgo, n�o ficam paradas no tempo. Elas movem o mundo.
Al�m do justo reconhecimento, o pr�mio teve um outro significado: reacendeu em n�s a mem�ria afetiva daquilo que nos inspira e nos mobiliza. O Nobel est� em boas m�os.
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