Adriana Fernandes

Jornalista em Brasília, onde acompanha os principais acontecimentos econômicos e políticos há mais de 25 anos

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Descrição de chapéu Governo Lula China

Setor produtivo cobra mais diálogo direto com Haddad e equipe

Governo se deixou ficar a reboque no debate sobre taxação das compras até US$ 50

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É possível observar no empresariado nacional uma queixa crescente de que Fernando Haddad e sua equipe no Ministério da Fazenda conversam muito pouco com o setor produtivo para sentir o termômetro do PIB brasileiro.

A crítica vem sendo acompanhada da avaliação de que a equipe econômica ouve bem mais banqueiros e representantes do mercado financeiro do que os empresários do setor produtivo.

A queixa é que falta uma ponte com o empresariado do Brasil que produz e mais emprega no país.
Evidentemente, a tese é logo rejeitada pelos auxiliares do ministro e por ele próprio, que argumenta dedicar todas as sextas-feiras a ouvir os setores da economia.

Haddad durante cerimônia de sanção de projeto de lei sobre depreciação acelerada de máquinas para a indústria. - Pedro Ladeira 28.mai.2024/ Folhapress

É claro que não se está falando aqui que Haddad e secretários não comparecem a eventos organizados por entidades de setores empresariais. Tampouco que seja trivial Haddad acomodar na sua agenda diária os inúmeros pedidos de audiência.

O problema é que a participação nos eventos é na maioria das vezes sempre cronometrada, e os discursos, usados em boa medida para passar mensagens de coordenação de expectativas não relacionadas aos problemas de cada setor.

O que traz ressentimento ao empresariado é que a colocação dos principais temas econômicos tem sido ao estilo "top down’’ —de cima para baixo.

O presidente Lula já gerou polêmica quando recomendou recentemente a Haddad que, em vez de ler um livro, perdesse mais tempo com deputados e senadores.

Fato é que a ausência de um diálogo mais azeitado e direto com as grandes lideranças empresariais tem feito muitas delas buscar mais o canal do Congresso e do BNDES.

No caso do banco de desenvolvimento, onde naturalmente os empresários vão buscar financiamento, o que se ouve é que o diálogo está sendo ampliado para discussões que vão além de empréstimos de curto prazo, mas para políticas de longo prazo para o país. Aliás, o que se espera de um banco de desenvolvimento.

Toda a polêmica construída em torno do fim da taxação das compras internacionais até US$ 50 revelou exatamente a dificuldade do diálogo e enfrentamento do tema de peito aberto.

O governo foi deixando que narrativas falsas para gerar claque nas redes sociais fossem sendo criadas em torno da isenção dos produtos pelas plataformas digitais, como Shein, Shopee e AliExpress. Entre elas, a narrativa de que a isenção estaria acabando com a indústria nacional e que o problema era do tamanho do Bolsa Família, que custa R$ 170 bilhões por ano.

Em outra direção, o debate simplista ficou em torno da argumentação de que a cobrança do tributo afetaria os consumidores de renda mais baixa e derrubaria a popularidade do presidente Lula.

Esses dois polos da narrativa serviram para alimentar os ataques nas redes sociais.

O que o presidente e seus auxiliares fizeram? Deixaram o barco correr, interditando o debate da taxação com a justificativa de que o presidente Lula não aceitava a cobrança. O governo tinha os dados em mãos para rebater as informações erradas e coordenar debate. Optou por não fazer.

O Congresso acabou por incluir uma taxação com uma alíquota de 20% do Imposto de Importação para as mercadorias compradas no exterior via sites de comércio eletrônico no projeto que cria o programa Mover para a indústria automobilística.

A medida passou na Câmara, e a taxação deve ser aprovada no Senado nesta semana, apesar de indústria e comércio afirmarem que o valor é insuficiente para igualar condições de competição.

O presidente Lula não deve vetar a proposta, conforme sinalizou o vice-presidente, Geraldo Alckmin, diante das negociações de bastidores no Congresso com o governo para a fixação do valor da alíquota.

A solução meio-termo veio pelas mãos do Congresso. O protagonismo também. O governo ficou a reboque. Certo mesmo é que o problema da indústria não será resolvido com a taxação. O diálogo aberto é essencial.

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