Na madrugada desta segunda-feira (8), o foguete Vulcan fez sua estreia com sucesso, lançando o Peregrine, da empresa Astrobotic, na direção da Lua. Infelizmente, as coisas se complicaram depois que o módulo de pouso se separou do segundo estágio do lançador e iniciou seu voo autônomo na rota translunar.
A ULA (United Launch Alliance, joint-venture das empresas Boeing e Lockheed Martin) celebrou o primeiro voo de certificação de seu novo lançador. "Numa olhada rápida foi tudo bem. Lançou na abertura da janela. Missão perfeitamente nominal. No alvo na inserção orbital. Por um minuto eu achei que eu estava em uma missão do Atlas…", brincou Tory Bruno, CEO da companhia, referindo-se ao predecessor imediato do Vulcan, o Atlas 5.
Com o sucesso do foguete, falta apenas mais um voo de certificação para que a ULA possa começar a cumprir as missões já contratadas pelo Departamento de Defesa dos EUA, colocando-a em concorrência direta com a SpaceX, de Elon Musk, única empresa no momento qualificada para lançar cargas úteis militares americanas.
A alegria, contudo, não foi a mesma para os responsáveis pela missão lunar embarcada no foguete. A crise para a Astrobotic começou depois que os sistemas de propulsão da sonda foram ativados, e, por algum motivo, a espaçonave não conseguiu apontar de forma estável seus painéis fotovoltaicos na direção do Sol.
As baterias rapidamente perdiam sua carga, aumentando a urgência para o controle da missão, mas ao menos foi possível estabelecer comunicação entre a sonda e os controladores na sede da Astrobotic, em Pittsburgh, o que permitiu aos engenheiros aprontarem uma manobra de improviso para realizar o apontamento.
Após um período de blecaute de comunicações programado, os controladores constataram que a manobra fora bem-sucedida e as baterias estavam recarregando. Mas às 15h03 desta segunda (pelo horário de Brasília) a empresa comunicou que a falha detectada no sistema de propulsão estava causando um vazamento crítico de combustível.
Com isso, enquanto trabalha para tentar conter a perda de propelente, a companhia praticamente deu adeus à perspectiva de realizar o primeiro pouso de uma espaçonave privada na superfície da Lua. "Dada a situação, priorizamos maximizar a ciência e os dados que podemos capturar. Estamos atualmente investigando que perfis alternativos de missão podem ser viáveis neste momento."
A espaçonave segue na direção da Lua, conforme trajetória estabelecida pelo lançamento do Vulcan, e os engenheiros tentarão controlar o rumo o suficiente para pelo menos se estabelecer em órbita lunar –nem isso é garantido no momento.
A missão transportava 21 cargas úteis de sete países, vindas de agências espaciais, empresas e universidades, mas sua maior cliente era a Nasa, que embarcou seis instrumentos científicos no Peregrine –sabendo de antemão que estava fazendo uma aposta arriscada ao estabelecer parcerias comerciais para o envio de carga à Lua.
"Cada sucesso ou retrocesso é oportunidade para aprender e crescer. Nós vamos usar essa lição para propelir nossos esforços para avançar a ciência, a exploração e o desenvolvimento comercial da Lua", disse Joe Kearns, vice-administrador associado de exploração do diretório de ciência da Nasa.
Ainda que se possa salvar algo da missão, foi a falha crítica mais prematura a acometer um projeto privado de pouso lunar. Nas duas tentativas anteriores, realizadas pelo grupo israelense SpaceIL e pela empresa japonesa ispace, os veículos atingiram a órbita lunar e chegaram bem perto da superfície antes que um problema impedisse a descida suave ao solo. Desta vez, a coisa se complicou praticamente na largada.
O fracasso não reduz as expectativas sobre a exploração lunar nos próximos meses. No dia 19 deste mês, a Jaxa (agência espacial japonesa) pretende pousar sua sonda Slim, e em meados de fevereiro um novo voo privado americano deve ocorrer, com o módulo de pouso Nova-C da empresa Intuitive Machines, de Houston, a bordo de um foguete Falcon 9, da SpaceX.
A Astrobotic pretendia fazer seu segundo voo lunar ainda em 2024, com um módulo maior que o Peregrine, o Griffin, mas não está claro se os planos se rão mantidos após os problemas enfrentados na primeira missão. E a japonesa ispace também pretende tentar de novo neste ano, após o fracasso de 2023.
Os chineses também planejam para maio de 2024 a missão Chang'e-6, que pretende fazer pela primeira vez um retorno de amostras do lado afastado da Lua. Apesar do aperto precoce da Astrobotic, não será por falta de tentativas de pouso lunar que ficaremos entediados neste ano.
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