Ouça a atividade sísmica do vulcão na Islândia que está prestes a entrar em erupção

Aplicativo da Universidade Northwestern (EUA) transforma frequências sísmicas em tons audíveis ao ouvido humano

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São Paulo

A iminente erupção do vulcão Fagradalsfjall, na Península de Reykjanes, na Islândia, tem chamado atenção do mundo todo e agora a atividade sísmica que a precede já pode ser acompanhada por áudio.

Pesquisadores da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, desenvolveram o aplicativo Earthtunes, que transforma frequências sísmicas em tons audíveis.

Segundo comunicado da universidade desta quinta (16), enquanto um sismógrafo clássico registra movimentos na superfície da Terra como linhas onduladas traçadas em uma página, o Earthtunes permite que os usuários ouçam, em vez de ver, essa atividade.

Turistas observam vulcão Fagradalsfjall, na Península de Reykjanes, na Islândia, em agosto de 2022 - Jeremie Richard 10.ago.22/AFP

Até agora, a recente e contínua atividade sísmica na Islândia tem soado como uma espécie de sinfonia estridente de portas batendo, granizo caindo contra um telhado ou janela de zinco e pessoas quebrando bandejas de cubos de gelo.

A atividade sísmica tem se tornado cada vez mais frequente e intensa desde meados de outubro. A reportagem da Folha esteve na Islândia entre 17 e 30 de outubro e, a partir do dia 25, passou a receber alertas diários do serviço meteorológico islandês de tremores em torno da área de Fagradalsfjall.

Mas, até então, eles não estavam sendo relacionados a uma iminente erupção vulcânica. Como a área está localizada entre as placas tectônicas da Eurásia e da América do Norte, terremotos e atividades vulcânica são frequentes na região.

Em 2021, o vulcão Fagradalsfjall registrou uma erupção que durou seis meses e expeliu gás, lava e pedras.

Neste clipe de áudio, é possível ouvir 24 horas de atividade gravada entre 10 e 11 de novembro. Salpicado com uma cacofonia de ruídos agudos de batidas, parece que alguém está batendo insistentemente em uma porta.

"A atividade é formidável, emocionante e assustadora", disse a sismóloga Suzan van der Lee , da Northwestern, que codesenvolveu o Earthtunes, em comunicado distribuído à imprensa. O aplicativo é apoiado pela União Geofísica Americana e pelo departamento de Ciências da Terra e Planetárias da Northwestern. Os dados sísmicos são obtidos do Earthscope Consortium.

Em um outro clipe de áudio distribuído pela universidade, o som aparece aumentado em dez oitavas. É possível ouvir um som longo e baixo, pontuado por uma batida ocasional de porta.

"O que estamos ouvindo são 24 horas de dados sísmicos –repletos de sinais de terremoto", explica van der Lee. "A grande maioria destes terremotos está associada à intrusão de magma na crosta da área Fagradallsfjall-Svartsengi-Grindavik da Península de Reykjanes.

Segundo ela, os dados sísmicos não são audíveis; suas frequências são muito baixas. Assim, as 24 horas de dados são compactadas em cerca de 1,5 minuto de dados de áudio.

Num terceiro clipe de áudio, os mesmos dados são menos comprimidos, com o tom aumentado em apenas sete oitavas.

"Podemos ouvir terremotos frequentes acontecendo neste momento", disse van der Lee. "Os sismólogos islandeses têm monitorizado esses terramotos e o seu crescente vigor e mudança de padrões. Eles reconheceram padrões semelhantes aos enxames de terremotos que precederam as erupções de 2021-2023 do vulcão Fagradallsfjall adjacente."

Para ela, a Islândia fez a coisa certa ao evacuar os residentes da vizinha Grindavik e da central geotérmica vizinha de Svartsengi, uma das mais antigas do mundo. Essa foi a primeira central a combinar a produção de eletricidade com água quente para aquecimento na região.

Em sua pesquisa, Van der Lee aplica ciência de dados a milhões de registros de ondas sísmicas para decodificar sinais sísmicos, que abrigam informações valiosas sobre a dinâmica do interior da Terra.

Segundo ela, a erupção iminente do vulcão Fagradalsfjall lembra uma outra, a do Heimaey, ocorrida em 1973, no arquipélago de Vestmannaeyjar, também na Islândia. À época, a lava cobriu parte da cidade.

"Este nível de perigo não tem precedentes para esta área da Islândia, mas não para a Islândia como um todo", disse Van der Lee, que escalou Fagradalsfjall em junho. A Folha esteve em área próxima ao vulcão no fim de outubro. Toda a região acumula montanhas de lava.

Em março de 2021, o vulcão Fagradalsfjall entrou em erupção e atraiu mais de 350 mil pessoas nos meses seguintes em que continuou em atividade.

No ano seguinte, em agosto, voltou a ocorrer uma nova erupção de três semanas na mesma área, seguida por outra em julho deste ano.

Antes dos episódios recentes, Fagradalsfjall, que tem cerca de 6 km de largura e 19 km de comprimento, havia permanecido inativo por mais de 6.000 anos.

Van der Lee explica que a maioria dos vulcões islandeses entra em erupção longe das cidades e outras infraestruturas, o que faz com que os islandeses estejam muito temerosos com a atual situação.

"Eles partilham a terrível memória da erupção há 50 anos na ilha Vestmannaeyjar. Os residentes sentiram-se muito vulneráveis, tal como se sentem agora as pessoas evacuadas de Grindavik. Dentro de alguns dias ou semanas, poderão já não ter os seus empregos, casas e a maior parte dos bens, ao mesmo tempo que ainda terão de alimentar as suas famílias e pagar as suas hipotecas."

No entanto, segundo ela, até como resultado da experiência em Vestmannaeyjar, os islandeses agora estão bem preparados para a situação atual.

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