Em 121 anos do Prêmio Nobel, 954 pessoas já foram agraciadas com a honraria internacional e apenas cinco delas conseguiram ganhar dois prêmios. A primeira a conseguir tal feito foi a polonesa Marie Curie, a primeira mulher laureada e a única pessoa a ganhar em duas categorias científicas diferentes: na física e na química.
O recorde, no entanto, pertence a uma entidade e não a uma pessoa: o Comitê Internacional da Cruz Vermelha é o único a somar três prêmios Nobel na história, todos da Paz. Os dois primeiros, em 1917 e em 1944, foram pelo seu trabalho durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais. O terceiro, em 1963, foi uma homenagem aos cem anos da organização.
Confira abaixo as histórias dos maiores vencedores do Prêmio Nobel
Marie Curie
Marie Sklodowska nasceu em 1867 em Varsóvia, na Polônia, em uma família de professores. Depois de se mudar para Paris (FRA) para continuar seus estudos, ela conheceu Pierre Curie, que se tornou seu marido e também seu companheiro de pesquisas. Em 1903, o casal, ao lado de Antoine Henri Becquerel, conquistou o Prêmio Nobel de Física pelo estudo de sais de urânio e pela descoberta da radioatividade.
Oito anos depois, em 1911, já viúva —Pierre havia morrido atropelado em 1906—, ela recebeu o Nobel de Química pelo descobrimento e estudo dos elementos polônio, em homenagem ao seu país de origem, e rádio, por seu alto nível de radioatividade.
Em 1910, Marie conseguiu produzir o rádio como um metal puro, o que comprovou a existência do novo elemento. Ela também documentou as propriedades dos elementos radioativos e seus compostos, que se tornaram importantes como fontes de radiação tanto em experimentos científicos quanto no campo da medicina, onde são usados até hoje no tratamento do câncer (radioterapia).
Durante a Primeira Guerra Mundial, Curie organizou equipes móveis de raios-X para o tratamento dos soldados feridos no campo de batalha, usando para isso suas descobertas. Sua filha mais velha, Irene, seguiu os estudos da radioatividade e também recebeu o Prêmio Nobel de Química em conjunto com seu marido, Frederic Joliot, em 1935.
Marie morreu em 1934, em Sallanches, na França, de leucemia, devido à constante exposição a elementos radioativos.
Linus Carl Pauling
Além de Marie Curie, a única outra pessoa a conquistar o Nobel em categorias diferentes foi o ativista e químico norte-americano Linus Carl Pauling. O primeiro foi de Química, em 1954, por sua pesquisa sobre as ligações químicas. Durante os anos 1930, ele foi um dos pioneiros no uso da mecânica quântica para entender e descrever como os átomos se unem para formar moléculas.
Pauling trabalhou em uma ampla gama de áreas dentro da química. Por exemplo, nas estruturas de compostos químicos biologicamente importantes. Em 1951, ele publicou a estrutura da hélice alfa, que é um componente básico importante de muitas proteínas.
O segundo Nobel ganhado por ele foi o da Paz, em 1962, pela luta contra a corrida armamentista nuclear entre Oriente e Ocidente durante a Guerra Fria. Em 1959, Pauling redigiu o "Apelo de Hiroshima", o documento emitido após a Quinta Conferência Mundial contra Bombas Atômicas e de Hidrogênio. Ele foi um dos principais incentivadores que pressionaram as potências nucleares EUA, União Soviética e Grã-Bretanha a concluir um tratado de proibição de testes nucleares, que entrou em vigor em 10 de outubro de 1963. No mesmo dia, o Comitê Norueguês do Nobel anunciou que Linus Pauling havia ganhado o Prêmio da Paz que havia sido adiado desde 1962.
Pauling morreu quase duas décadas depois, aos 93 anos.
John Bardeen
John Bardeen foi um físico e engenheiro norte-americano que se tornou o único cientista a ter ganhado duas vezes o Nobel de Física. O primeiro foi conquistado em 1956, ao lado de William B. Shockley e Walter H. Brattain, pela contribuição na invenção do transistor, um amplificador de semicondutores que revolucionou o rádio, a televisão e a telefonia, permitindo a amplificação de sinais elétricos.
Os transistores também se tornaram fundamentais na fabricação de chips eletrônicos, como processadores de computador.
O segundo Nobel foi conquistado em 1972, em parceria com Leon Neil Cooper e John Robert Schrieffer, pelo desenvolvimento da teoria quântica da supercondutividade, também conhecida como BCS. O trio descobriu que quando certos metais são resfriados a temperaturas extremamente baixas, eles se tornam supercondutores, conduzindo corrente elétrica completamente sem resistência. Com base na mecânica quântica, eles formularam a teoria para o fenômeno em 1957. Os supercondutores são usados hoje em dia em aparelhos de ressonância magnética e nos trens de levitação magnética (Maglev).
Bardeen morreu em 1991, aos 83 anos.
Frederick Sanger
O bioquímico inglês Frederick Sanger conquistou dois Prêmios Nobel de Química. Em 1958, a láurea foi por seu trabalho sobre a estrutura das proteínas, que são moléculas compostas por cadeias de aminoácidos que desempenham um papel fundamental dentro das células.
A partir da década de 1940, ele passou a estudar a insulina, um hormônio que regula o teor de açúcar no sangue. Sua falta provoca o diabetes. Sanger usou ácidos para quebrar a molécula em partes menores, que foram separadas umas das outras com a ajuda da eletroforese (processo que permite a separação de moléculas e íons em solução por meio de um campo elétrico) e da cromatografia (método físico-químico de separação de sólidos dissolvidos em uma solução por meio da migração diferencial de seus componentes). Análises adicionais determinaram as sequências de aminoácidos nas duas cadeias da molécula, e em 1955 Sanger identificou como as cadeias estão ligadas entre si.
Em 1980, ele ganhou seu segundo Nobel, junto com Paul Berg e Walter Gilbert, pelo desenvolvimento de uma técnica de sequenciamento do DNA que é usada ainda hoje. O genoma de um organismo é armazenado na forma de longas fileiras de blocos de construção, conhecidos como nucleotídeos, que formam moléculas de DNA.
Em 1977, Sanger desenvolveu um método baseado no uso de pequenas quantidades do que são conhecidos como dideoxinucleotídeos. Estes podem ser inseridos na cadeia de DNA, mas em um determinado nucleotídeo eles interrompem o crescimento da cadeia, de modo que fragmentos de diferentes comprimentos são criados. Após passar por eletroforese, as sequências de nucleotídeos em uma amostra de DNA podem ser identificadas.
Sanger morreu em 2013, aos 95 anos.
Barry Sharpless
O norte-americano Karl Barry Sharpless, 81, também ganhou dois Prêmios Nobel de Química. O atual professor do Instituto de Pesquisas Scripps baseou seu trabalho na teorização e execução de métodos para as moléculas se ligarem umas às outras de forma rápida e eficiente com a utilização de catalisadores especiais —substâncias que facilitam reações químicas sem serem consumidas nelas. Ele chamou esse processo de "química do clique". O processo consegue juntar elementos que antes eram muito difíceis de serem unidos.
Sharpless recebeu o primeiro prêmio em 2001 por esta teoria. Em 2022, ele recebeu novamente o Nobel porque grupos separados de cientistas —um liderado pelo próprio Sharpless— conseguiram demonstrar a eficácia da teoria proposta 21 anos antes. Desta forma, ele se tornou o segundo cientista, junto com Frederik Sanger, a receber duas vezes o Nobel de Química.
A técnica é amplamente utilizada atualmente no desenvolvimento de produtos farmacêuticos, para mapeamento de DNA e na criação de novos materiais.
Comitê Internacional da Cruz Vermelha
Fundado em 1863 por iniciativa do suíço Henry Dunant, que foi laureado com o Nobel da Paz em 1901, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha é o recordista no prêmio da Paz: 1917, 1944 e 1963.
As láureas foram dadas pelo trabalho da instituição em prol dos prisioneiros durante as duas grandes guerras mundiais. De acordo com a Convenção de Genebra de 1929, a Cruz Vermelha havia estabelecido, durante os anos de guerra, contatos entre prisioneiros e suas famílias, enviado pacotes de roupas, medicamentos e alimentos, inspecionado campos de prisioneiros e organizado trocas de prisioneiros.
O símbolo da organização, a cruz vermelha em um fundo branco, tinha como objetivo proteger tanto amigo quanto inimigo. Nos anos seguintes, cada vez mais estados se juntaram e estabeleceram comitês nacionais e hoje atuam em vários países, como no confronto entre Rússia e Ucrânia.
Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados)
Outra entidade ligada aos direitos humanos, a Acnur, agência da ONU para refugiados, foi premiada em 1954 e 1981 com o Nobel da Paz. Na primeira ocasião, a Fundação Nobel comunicou que a láurea foi "por seus esforços em curar as feridas da guerra, fornecendo ajuda e proteção a refugiados em todo o mundo" durante as grandes guerras mundiais.
Em 1981, o problema dos refugiados no mundo era ainda maior. Enquanto no início dos anos 1950 o assunto era principalmente uma preocupação europeia, na segunda oportunidade havia se tornado importante para o terceiro mundo, especialmente na África, mas também na Ásia e na América Latina. Foi no continente africano que cerca de metade dos dez milhões de refugiados pelos quais o Acnur era responsável na época se encontravam.
O Acnur destinou o dinheiro dos prêmios a um fundo em benefício de refugiados com deficiências funcionais.
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