Descrição de chapéu The New York Times dinossauro

Visão de raio-X traz nova vida a um fóssil achatado pelo tempo

Cientistas conseguiram desvendar a identidade de um ictiossauro que havia sido reduzido a uma mistura bidimensional de ossos

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Jack Tamisiea
The New York Times

Ao explorar o topo de uma montanha no Ártico em 2008, paleontólogos desenterraram um pequeno esqueleto parecido com uma serpente marinha enrolada, impresso numa placa de rocha de 240 milhões de anos. O esqueleto notavelmente completo, apelidado de Oda, foi depositado na coleção do Museu de História Natural da Universidade de Oslo, na Noruega.

Estava claro que Oda era um ictiossauro, mas ninguém sabia dizer se era uma espécie conhecida desses répteis marinhos, que pareciam uma mistura de crocodilo com golfinho. Embora a maior parte do esqueleto tenha permanecido ali durante eras, o fundo do mar lamacento espremeu Oda numa confusão de ossos em duas dimensões.

Para identificar o réptil, os paleontólogos colocaram o paciente intrigante sob um aparelho de raios-X para montar o quebra-cabeça petrificado. Em um artigo publicado na quarta (31) na revista PLoS One, os pesquisadores descreveram os detalhes anatômicos que obtiveram do brilho fantasmagórico dos ossos radiografados de Oda.

Três imagens de Oda, o ictiossauro de 240 milhões de anos encontrado em Svalbard, Noruega, incluindo, a partir da esquerda, uma fotografia, radiografia e tomografia computadorizada
Três imagens de Oda, o ictiossauro de 240 milhões de anos encontrado em Svalbard, Noruega, incluindo, a partir da esquerda, uma fotografia, radiografia e tomografia computadorizada - Engelschiøn et al. PLOS ONE via NYT

"O contraste desses ossos é brilhante como o dia", disse Neil Kelley, paleontólogo da Universidade Vanderbilt que estuda répteis marinhos e não participou do novo estudo. "Estou com muita inveja —esse é exatamente o resultado que você deseja quando coloca algo sob raios-X."

As descobertas, acrescentou ele, mostram o potencial da técnica para adicionar novas dimensões aos misteriosos registros fósseis que foram achatados pela passagem do tempo.

O esqueleto enigmático foi descoberto em um planalto varrido pelo vento na ilha de Edgeoya, em Svalbard, um arquipélago ártico no norte da Noruega que abriga renas e ursos polares. Mas durante o período Triássico médio a área era uma plataforma marítima profunda na costa norte do supercontinente Pangea, e um refúgio para répteis marinhos.

Victoria Sjoholt Engelschion, pesquisadora de doutorado do Museu de História Natural de Oslo, encontrou pedaços de ossos azulados de ictiossauros quando fazia tomografias computadorizadas de aglomerados de moluscos fossilizados dessa área. Um colega recomendou escanear Oda para identificar pistas.

Por mais de um século, os paleontólogos tiveram que abrir fósseis para analisar a anatomia interna, muitas vezes destruindo seus valiosos espécimes. Nas últimas décadas, os cientistas recorreram a técnicas não destrutivas, como a tomografia computadorizada, para criar representações tridimensionais de fósseis. Como os ossos de Oda ficaram gravados na rocha, Engelschion e seus colegas optaram por uma abordagem mais tradicional, disparando raios-X através do fóssil para renderizar imagens bidimensionais.

Encaixar Oda, que é preservada com a coluna curva, a cauda dobrada e as nadadeiras e costelas espalhadas, numa máquina de raios-X foi um grande desafio.

"Não temos uma máquina capaz de fazer radiografias de espécimes grandes, mas felizmente nossos colegas do Museu de História Cultural tinham, já que os arqueólogos usam essa técnica com muito mais frequência", disse Engelschion.

Nas varreduras iniciais, os ossos fossilizados de Oda saltaram dos raios-X. Esse contraste se deveu, em parte, ao fato de o material interno dos ossos do animal ter sido totalmente substituído por barita, um mineral sulfatado que hoje é usado como contraste radiográfico em exames médicos.

"Os ossos do ictiossauro não eram mais ossos, o que os fez acender", disse Engelschion.

Como a barita deu aos ossos um brilho intenso, a equipe pôde observar características anatômicas que haviam sido negligenciadas ou obscurecidas. Eles descobriram que o crânio de jacaré do ictiossauro era consideravelmente mais longo do que se pensava anteriormente. E também identificaram ossos e vértebras dos membros antes invisíveis.

"Esse estudo ilustra a importância de usar algumas das técnicas mais 'experimentadas e testadas' que ainda podem revelar novos dados", disse Dean Lomax, paleontólogo da Universidade de Manchester, na Grã-Bretanha, especializado em ictiossauros e não envolvido no novo estudo.

A pista crucial estava nos dentes da criatura. Os raios-X revelaram que os dentes maiores de Oda tinham sulcos que lembravam os dentes encontrados nas mandíbulas do Phalarodon atavus, um ictiossauro pequeno e elegante que foi encontrado na Europa continental e na China. De acordo com Engelschion, encontrar esse ictiossauro em Svalbard mostra como a espécie foi difundida e bem-sucedida durante seu apogeu.

Kelley acrescentou que encontrar o lugar certo de Oda no registro fóssil ajudou a pôr em contexto o surgimento dos ictiossauros, que dominaram os ecossistemas marinhos durante 150 milhões de anos. Ele disse que reexaminar outros fósseis de répteis marinhos sob raios-X poderá revelar novas pistas de como eles evoluíram.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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