Conhe�a as hist�rias de mulheres de sucesso na Nasa
Rec�m-lan�ado nos cinemas, o filme "Estrelas Al�m do Tempo" (Hidden Figures) � um retrato perfeito da rela��o ao mesmo tempo turbulenta e prof�cua que os Estados Unidos travam com a diversidade em sua popula��o.
A pel�cula, baseada num livro de n�o fic��o de Margot Lee Shetterly, conta a hist�ria de tr�s mulheres negras que tiveram import�ncia fundamental no sucesso do programa espacial americano, numa �poca em que as tens�es com a Uni�o Sovi�tica na Guerra Fria atingiam seu pico.
Katherine Gable Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson come�aram suas carreiras como "computadoras" (numa �poca em que o melhor computador dispon�vel para c�lculos era o c�rebro humano), mas acabaram em posi��o de destaque na Nasa.
Aos interessados pela hist�ria da corrida espacial, o filme � um retrato razoavelmente acurado de como se deu a transi��o entre os c�lculos manuais e o in�cio da revolu��o digital, coincidindo com o aumento de complexidade das miss�es.
Contudo, o cora��o da narrativa est� mesmo com a trajet�ria das pessoas que tiveram de combater um preconceito duplo –serem mulheres e negras–, para contribuir com o programa espacial.
Para efeito dram�tico, a pel�cula reordena certos eventos e comprime boa parte da carreira pregressa delas num per�odo bem curto de tempo, entre 1961 e 1962, dando a impress�o de que a segrega��o racial era um elemento importante na Nasa no per�odo em quest�o.
N�o era. O Centro Langley de Pesquisa, em Hampton, Virg�nia, atualmente um dos dez centros da Nasa, de fato teve a sua divis�o de Computa��o da �rea Oeste –exclusiva para "pessoas de cor", como placas em banheiros e portas indicavam.
Isso, contudo, existia quando o Langley ainda era parte da Naca –o Comit� Consultor Nacional para Aeron�utica. Com a funda��o da Nasa, em 1958, os centros da Naca passaram a fazer parte da nova ag�ncia espacial, e houve a elimina��o dos departamentos segregados.
Katherine Gable Johnson, vivida no filme por Taraji Henson, foi trabalhar no Langley, ent�o da Naca, em 1952. Quando a Nasa foi fundada, ela permaneceu no programa e ficou na ag�ncia at� se aposentar em 1986.
Com forma��o em f�sica e matem�tica, seu trabalho foi instrumental durante as diferentes eras do programa espacial. Ela calculou a trajet�ria do voo suborbital de Alan Shepard, o primeiro americano no espa�o, em 1961, e de fato foi chamada para conferir os n�meros que o computador havia fornecido para o voo orbital de John Glenn, em 1962 –a pedido do astronauta, como � mostrado no filme. Na realidade, por�m, ela teve alguns dias para fazer isso, n�o alguns minutos.
Mais tarde, trabalhando com computadores, Johnson faria parte da equipe que fez os c�lculos das miss�es Apollo –ela trabalhou para o primeiro pouso humano na Lua e ajudou a salvar a vida dos astronautas durante a malfadada miss�o Apollo 13. Ao fim da carreira, tamb�m trabalhou calculando trajet�rias, janelas de lan�amento e rotas de retorno de emerg�ncia para os �nibus espaciais, que entraram em opera��o em 1981.
J� a matem�tica Dorothy Vaughan (interpretrada no filme por Octavia Spenser) de fato se tornou a primeira supervisora negra do grupo de computa��o, mas isso ainda durante a era da Naca. E Mary Jackson (vivida por Janelle Mon�e) entrou para a hist�ria como a primeira engenheira negra da Nasa, mas n�o em 1962, e sim em 1958.
O DRAMA AINDA EXISTE
A despeito dessas imprecis�es hist�ricas, rearranjadas para dar maior densidade narrativa ao filme, o preconceito que Johnson, Vaughan e Jackson enfrentaram em suas carreiras nada teve de fict�cio. E ainda hoje a Nasa tem um desequil�brio na composi��o de seu pessoal. "Os n�meros ainda desapontam", disse, em entrevista ao site NOLA.com, Charles Bolden, o primeiro administrador negro da ag�ncia. Nomeado por Barack Obama em 2009, ele deixou o cargo em 12 de janeiro deste ano.
"Ainda n�o estamos bem em termos de mulheres e minorias nos campos de STEM [sigla para ci�ncia, tecnologia, engenharia e matem�tica], em posi��es de lideran�a", afirmou o ex-astronauta e ex-administrador. "E isso n�o ser� mudado pelo congelamento de contrata��es da administra��o Trump. Os n�meros fracos que temos hoje continuar�o fracos."
Esse conflito tipicamente americano, em cenas de partir o cora��o, est� muito bem representado em "Estrelas Al�m do Tempo", e parece um recado moldado para os dias de hoje: embora historicamente os EUA tenham problemas com preconceitos de g�nero e etnia, esses grupos discriminados s�o paradoxalmente o grande motor de seu sucesso como na��o.
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