Cientistas criam embri�es de porco que tamb�m t�m c�lulas humanas
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A ideia de que os porcos seriam bons candidatos para abrigar �rg�os humanos � relativamente antiga |
Cientistas nos EUA e na Espanha conseguiram criar os primeiros embri�es de porco cujo organismo abriga tamb�m c�lulas humanas. Embora a t�cnica seja complicad�ssima e brutalmente ineficiente, trata-se um passo importante para o sonho de desenvolver �rg�os para transplante no corpo de animais dom�sticos.
"Estamos muito longe do objetivo final, que � criar tecidos e �rg�os funcionais e transplant�veis", declarou em comunicado oficial o coordenador do estudo, Juan Carlos Izpisua Belmonte, do Instituto Salk de Pesquisas Biol�gicas, na Calif�rnia. "Ach�vamos que cultivar c�lulas humanas num animal seria muito mais frut�fero. Ainda temos muito a aprender."
Belmonte e seus colegas acabam de publicar os resultados na revista cient�fica "Cell", uma das mais prestigiosas do mundo. Al�m de estudar a intera��o entre os embri�es su�nos e as c�lulas humanas implantadas neles, os cientistas investigaram ainda cen�rios similares envolvendo mais tr�s esp�cies de mam�feros –ratos, camundongos e vacas.
Isso lhes permitiu avaliar estrat�gias que facultariam n�o apenas a inser��o aleat�ria de c�lulas humanas aqui e ali num animal de outra esp�cie, mas a substitui��o espec�fica de um �rg�o natural do bicho por outro indistingu�vel do cora��o ou do p�ncreas de uma pessoa durante o desenvolvimento embrion�rio.
"Cara, o trabalho � sensacional", diz o bi�logo brasileiro Alysson Muotri, da Universidade da Calif�rnia em San Diego, que comentou a pesquisa a pedido da Folha. "J� dei umas tr�s entrevistas hoje sobre o assunto."
VANTAGENS SU�NAS
A ideia de que os porcos seriam bons candidatos para abrigar �rg�os humanos � relativamente antiga, chegando at� a ser incorporada em obras de fic��o cient�fica. As estruturas do organismo dos su�nos t�m tamanho similar ao das nossas, e a manipula��o do ciclo reprodutivo tamb�m costuma ser mais simples e eficiente do que a de outros mam�feros de grande porte.
Antes disso, por�m, seria importante dominar a t�cnica em esp�cies ainda mais f�ceis de manipular, e por isso a equipe come�ou a trabalhar com camundongos e ratos (sim, s�o duas esp�cies bem diferentes), j� muito estudados quando o assunto � criar as chamadas quimeras (criaturas cujo organismo cont�m c�lulas oriundas de dois indiv�duos diferentes, ou mesmo de esp�cies distintas).
A cria��o de uma quimera em laborat�rio come�a com a obten��o de c�lulas-tronco pluripotentes, ou seja, as que s�o capazes de dar origem a praticamente qualquer tecido do organismo, do c�rebro ao cora��o. No caso, as c�lulas-tronco foram obtidas a partir de embri�es de ratos e marcadas com uma prote�na fluorescente, o que ajuda os cientistas a rastre�-las mais tarde.
O passo seguinte � injetar tais c�lulas num embri�o de camundongo com poucos dias de vida. Nessa primeira tentativa, os pesquisadores verificaram que as c�lulas-tronco de rato ajudaram a formar diversas partes do organismo dos camundongos quim�ricos, muitos dos quais nasceram e viveram de modo aparentemente normal at� a velhice (que, para esses bichos, equivale aos dois anos de idade). "N�o � f�cil fazer esses experimentos quim�ricos. Eu mesmo j� fiz algo semelhante em camundongos e posso atestar que � preciso ter bastante expertise no procedimento", afirma Muotri.
Veio a seguir a abordagem mais ousada do grupo. Eles usaram uma t�cnica relativamente precisa de manipula��o do DNA, a chamada CRISPR-Cas9, para deletar um gene crucial para o desenvolvimento do p�ncreas –�rg�o importante para a digest�o e para o metabolismo do a��car– nos embri�es de camundongos. Sem um p�ncreas funcional, os camundongos morreriam poucos dias ap�s o nascimento.
"Morreriam", mas n�o morreram, na verdade, os camundongos que, na fase embrion�ria, receberam as c�lulas-tronco de ratos. Essas c�lulas "intrusas" acabaram construindo um p�ncreas meio fraquinho, mas funcional, que permitiu que os bichos chegassem � idade adulta. Se a ideia � produzir um �rg�o humano em animais, um procedimento desse tipo poderia muito bem dar certo.
PREP�CIO
Basicamente os mesmos procedimentos descritos acima foram usados com vacas e porcas "de aluguel", que receberam embri�es de sua esp�cie injetados com c�lulas-tronco humanas. A diferen�a � que essas c�lulas n�o vieram de embri�es, mas do prep�cio (a pele que recobre o p�nis) de humanos adultos. Por meio de fatores especiais, as amostras de tecido adulto foram "convencidas" a retornar a um estado muito semelhante ao embrion�rio.
A coisa funcionou de novo, mas mal e mal. Em porcos os resultados foram um pouco melhores, mas foi preciso usar mais de 2.000 embri�es su�nos em fase inicial de desenvolvimento, implantados em porcas "m�es de aluguel", para chegar a apenas 17 embri�es mais avan�ados (com cerca de um m�s de vida), que tinham de fato incorporado algumas c�lulas humanas e apresentavam tamanho e morfologia normais.
Agora, vai ser preciso ajeitar detalhes cada vez mais finos dessa "receita" para que a efici�ncia do processo aumente. Um detalhe importante parece ser o procedimento usado para transformar as c�lulas adultas humanas em c�lulas-tronco pluripotentes, diz Muotri.
� que, em humanos, tais c�lulas d�o a impress�o de ser, por vezes, menos vers�teis que os seus equivalentes em outros animais –o que teria um impacto na sua capacidade de formar quimeras.
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