'H� muitas mais detec��es por vir', diz pesquisadora das ondas gravitacionais
Gabriela Gonz�lez, nasceu na Argentina, em C�rdoba, onde estudou f�sica. Veio para os Estados Unidos em 1989 e se apaixonou pela ideia de medir as oscila��es no espa�o-tempo de que falava seu orientador de doutorado na Universidade de Syracuse (Estado de Nova York), Peter Saulson.
"Era exatamente o que eu queria fazer", diz com um largo sorriso no rosto a pesquisadora da Universidade do Estado de Louisianna. Um quarto de s�culo depois, ela se tornaria a face p�blica da detec��o das ondas gravitacionais geradas pela colis�o de dois buracos negros, previstas por Albert Einstein em 1915.
Ap�s o doutorado, foi para o MIT e de l� para a Pensilv�nia e depois Louisianna -onde foi constru�do um dos dois detectores Ligo, em Livingston. "Tive muita sorte", conta a f�sica experimental.
Ela trabalhou diretamente no projeto e na instala��o de espelhos suspensos do detector e na caracteriza��o dos dados. Sua fun��o, diz, era fazer os "artefatos" (falsos eventos) desaparecerem, para que os verdadeiros achados aparecessem, como o choque ocorrido 1,3 bilh�o de anos atr�s.
Em 2011, Gonz�lez foi escolhida por vota��o para ser a porta-voz da iniciativa que reunia 16 pa�ses e mais de mil pesquisadores. Foi reeleita para a fun��o j� duas vezes.
Leia abaixo a entrevista feita na reuni�o anual da AAAS (Associa��o Americana para o Avan�o da Ci�ncia).
Louisiana State University/Divulga��o | ||
A cientista argentina Gabriela Gonz�lez, que trabalhou diretamente no projeto nos EUA que detectou as ondas gravitacionais |
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Folha - A colabora��o no experimento durou 40 anos, e o artigo na "Physical Review Letters" tem mais de mil autores. Qual � a dificuldade envolvida em coordenar tanta gente por tanto tempo?
Gabriela Gonz�lez - � claro que eu n�o estive coordenando esse pessoal por 40 anos (risos). Obviamente, � um desafio. Cada um tem uma ideia diferente sobre como as coisas devem ser feitas, como devem ser escritas. Mas todos temos o mesmo objetivo, a mesma miss�o.
Temos uma organiza��o interna, com grupos de trabalho separados, trabalhando de baixo para cima. Algu�m escreve as partes de an�lise e todos fornecem coment�rios, e assim por diante.
Houve outros eventos detectados pelo Ligo que ainda n�o foram analisados em detalhe, mas aguardam publica��o?
Bem, n�s temos muitos dados, e h� coincid�ncias presentes [aparentes eventos registrados pelos dois detectores]. Sempre surgem coincid�ncias quando analisamos os dados. A quest�o � qu�o significativas s�o essas coincid�ncias em rela��o ao ru�do captado pelos detectores.
Mas h� alguma coincid�ncia em que a sra. apostaria seu dinheiro?
Esse tipo de an�lise consome muito tempo, muito trabalho. Somos muito cuidadosos antes de falar qualquer coisa a respeito.
Esse experimento poder� ajudar f�sicos de part�culas a encontrar gr�vitons, as part�culas mediadoras da gravidade?
A detec��o do sinal que encontramos presumia a teoria da relatividade geral, e eles foram muito consistentes. Nossas observa��es confirmam, se quiser, a teoria da relatividade geral. � uma boa teoria.
Mas ser� que isso ajuda a f�sica de part�culas? N�o � t�o claro, porque a f�sica de part�culas tamb�m presume a teoria da relatividade de Einstein, na busca por uma teoria unificada. N�o tenho certeza de que [o Ligo] ajude, mas certamente n�o atrapalha (risos).
Houve compara��es entre Ligo e as lunetas de Galileu, que abriram os c�us para a ci�ncia. Mas ele viu coisas que ningu�m havia nem imaginado, como as luas de J�piter. No caso Ligo, confirmaram-se previs�es velhas de d�cadas. N�o seria mais precisa uma compara��o com a detec��o do b�son de Higgs pelo CERN?
Acho que se poderia comparar a primeira detec��o anunciada, talvez, com o b�son de Higgs. Mas o ponto que estamos tentando enfatizar � que agora podemos usar o Ligo como um observat�rio.
Agora se pode realmente olhar para o c�u com esses novos ouvidos (sic). N�o � s� essa primeira detec��o, mas muitas mais por vir, de outros sistemas, de outros buracos negros, com massas diferentes. N�s n�o sab�amos que buracos negros com massas t�o grandes existiam. As teorias e previs�es eram as mais disparatadas. N�s as estreitamos.
Agora h� um instrumento mais preciso, e essa � a analogia com Galileu - o potencial da ferramenta.
Isso, exatamente. Encontrar novas luas de J�piter, por assim dizer.
Algumas das previs�es sobre o cosmos e sua forma��o v�m sendo confirmadas por essas instala��es gigantescas, como o Ligo. Estamos perto de chegar l�, ou vamos precisar de m�quinas cada vez mais caras para continuar desvendando sua estrutura?
Ligo j� foi uma m�quina bem cara.
Quanto?
Ao longo de 25 anos, mais de US$ 1 bilh�o. J� era um empreendimento custoso. Mas foi bem-sucedido. N�s n�o achamos que construir novos laborat�rios como esses venha a ser ordens de magnitude mais caro. N�o vai custar dez vezes mais. Mas vai provavelmente necessitar de colabora��o internacional para que sejam feitos.
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