Richard Dawkins diz que religi�o � um 'v�rus' para a mente humana
Desde 1976, quando lan�ou o livro "O Gene Ego�sta", sabe-se que Richard Dawkins, 74, tem talento para fazer met�foras. Nesta quarta (27) no evento Fronteiras do Pensamento, em S�o Paulo, ele disse que a religi�o � como um v�rus de computador que se instala no c�rebro com a instru��o de se apenas se replicar com o passar das gera��es.
Para o zo�logo de Oxford, a religi�o, ao longo de eras, se aproveitou de boas caracter�sticas da psicologia humana como a obedi�ncia, confian�a e disciplina para continuar existindo.
A religi�o seria um efeito colateral do desenvolvimento da cultura: ao mesmo tempo que os homens adquiriram sabedoria com os pais e anci�os (conseguir �gua, alimentos e ser manter saud�vel), tamb�m aprenderam coisas sem sentido como "voc� deve sacrificar uma cabra na lua cheia" ou a seguir um livro sagrado.
Questionado se era 100% ateu, Dawkins disse que em uma escala de 1 (totalmente crente) a 7 (totalmente ateu) estaria na posi��o 6 (ou 6,9) j� que n�o seria poss�vel a um cientista s�rio provar que algo n�o existe. Deus, para ele, est� na mesma categoria que fadas, goblins ou o Monstro de Espaguete Voador. Se houvesse boas evid�ncias da exist�ncia de Deus, ele diz que mudaria de opini�o.
Fabio Braga/Folhapress | ||
Zo�logo brit�nico Richard Dawkins em palestra no evento Fronteiras do Pensamento, em S�o Paulo |
RELOJOEIRO CEGO
Uma das grandes preocupa��es que Dawkins mostrou � com rela��o ao grande espa�o ocupado (principalmente nos EUA) pelo criacionismo e pelo design inteligente –hip�tese pseudocient�fica que afirma haver um designer, um arquiteto que tenha criado a vida na Terra tal como existe hoje.
"S�o pessoas que dizem que a Terra tem menos de 10 mil anos", diz –nosso planeta tem 4,5 bilh�es de anos. Para ele, religi�o deve ser estudada com distanciamento e n�o como uma alternativa de explica��o para o mundo atual
No livro "O Relojoeiro Cego" (1986), Dawkins argumenta contra a necessidade de um arquiteto ou relojoeiro que seria respons�vel pela complexidade da vida na Terra.
Para o zo�logo, que tem uma funda��o que promove divulga��o do conhecimento cient�fico (Richard Dawkins Foundation), ao aprender sobre evolu��o e sele��o natural as crian�as poderiam at� mesmo conhecer o sentido da vida.
S�o duas maneiras de pensar: a primeira seria apenas se reproduzir e perpetuar seus genes. J� a segunda pode estar ligada ao passatempo ou talento das pessoas, como esportes ou m�sica. "E nenhuma delas precisa de religi�o", afirma.
GENE EGO�STA
Antes de dedicar-se �s pol�micas de ate�smo versus religi�o, Dawkins deu ao longo de 45 minutos uma excelente aula sobre evolu��o para o audit�rio lotado do teatro Ciec, em Pinheiros (zona oeste). A principal compara��o que ele usou para falar do assunto foi a de uma corrida armamentista (ao mesmo tempo que o le�o teve de evoluir e se aperfei�oar para capturar a gazela, a gazela teve de se adaptar e se aperfei�oar para fugir do le�o).
As esp�cies de hoje em dia seriam o resultado de uma "equa��o econ�mica" cujo resultado depende de onde os bichos investem energia –recurso escasso na natureza.
Os animais e organismos investem energia para que possam se reproduzir e passar seus genes adiante. E � justamente no gene, potencialmente imortal, que Dawkins v� a teoria da sele��o natural fazer sentido. O gene tem a tend�ncia a se perpetuar e isso transcende tanto o bem-estar do indiv�duo quanto o do grupo –da� o nome de seu primeiro livro.
Mesmo assim, segundo o cientista, � poss�vel haver duas formas colabora��o entre indiv�duos: ou voc� compartilha caracter�sticas gen�ticas (no caso de um familiar) ou no caso de um altru�smo rec�proco ("eu co�o suas costas voc� co�a as minhas"). O tema dessa edi��o do Fronteiras do Pensamento � "Como viver juntos".
POL�MICAS
Na fase de perguntas, n�o faltaram temas provocativos. Dawkins refor�ou sua posi��o pr�-aborto e disse que n�o condena moralmente quem tenha feito aborto ao saber que o embri�o seria portador de S�ndrome de Down.
Ele, tentando fugir de mais pol�mica, disse que sua posi��o n�o deveria ser confundida com algo contra pessoas com down, e que se tivesse um filho com a s�ndrome provavelmente o amaria.
Outro assunto pol�mico foi a utiliza��o em humanos da tecnologia do DNA recombinante, capaz de produzir plantas e animais transg�nicos. Dawkins diz que por mil�nios a esp�cie humana manipulou o fator sele��o de outras esp�cies, como c�es e cavalos, al�m de plantas, mas n�o o fator muta��o.
Esse conhecimento de sele��o artificial, talvez por uma quest�o moral, nunca foi aplicado em seres humanos para construir pessoas mais altas, fortes ou inteligentes, por exemplo.
Mesmo com os avan�os tecnol�gicos ele disse torcer para que a mesma barreira moral impedisse que a manipula��o gen�tica fosse empregada na nossa esp�cie.
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