Vidas Atípicas

Em busca de respostas para dúvidas profundas e inesgotáveis sobre o autismo

Vidas Atípicas - Johanna Nublat
Johanna Nublat

Os poderes do pertencimento e do acolhimento

Como é que a sociedade não proporciona essa experiência a todos, todos os dias, em todos os espaços?

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No último sábado, 15, fui a um concerto e me emocionei antes mesmo de a música começar. Olhar para os músicos no aquecimento e para o público foi suficiente para me trazer muitas ondas de emoção.

Era um concerto inclusivo, pelo Dia Mundial de Conscientização do Autismo (celebrado em 2 de abril), organizado desde 2016, em Brasília, pela psicóloga e fonoaudióloga Michelle Procópio em parceria com o maestro Cláudio Cohen, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro e o governo local. Também estavam lá 40 voluntárias e voluntários.

Orquestra toca ao fundo com detalhe para pessoas na plateia usando uma camiseta com a frase "inclusao nao é só no coraçao, mas na açao"
Concerto promovido em Brasília celebrou o dia mundial de conscientização sobre o autismo - Folhapress

O público-alvo eram crianças, adolescentes e adultos neurodiversos e suas famílias. E lá estava eu com minha família, tendo a experiência de um primeiro concerto com meus filhos, sem sentir o peso do julgamento e do estranhamento potenciais caso eles — ou qualquer outra pessoa ali — gritassem, pulassem, corressem, se desorganizassem, falassem alto, quisessem sair, fazer "stims" (movimentos corporais repetitivos que muitos autistas fazem no dia-a-dia). Me senti numa comunidade de desconhecidos que se acolhiam, se respeitavam, se compreendiam e estavam ali para se divertir.

"O concerto que usa a música como instrumento de socialização e valorização da diversidade proporciona um ambiente confortável onde se promoverá o respeito e aceitação das diferenças individuais para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva", me disse Procópio. "Acredito muito na inclusão e sonho com um mundo mais inclusivo. E sei que esse concerto é um pequeno passo."

O ambiente me proporcionou a experiência de mostrar para minhas crianças cada instrumento da orquestra, de observar o interesse delas nos músicos e nas músicas, de estar eu mesma como mãe assistindo, tranquila, a um evento cultural. Mais importante que minha experiência pessoal, foi uma oportunidade para meus filhos estarem ali, juntos em uma experiência cultural nova. O sentimento de acolhimento e o de pertencimento são tão empoderadores e justos. Saí de lá me perguntando como é que, nós, como sociedade, não proporcionamos essa experiência a todos, todos os dias, em todos os espaços?

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