Com alguns séculos de atraso, a Igreja Católica reconheceu que há gente na população LGBT+ que busca por Deus em templos. Mais do que isso, são pessoas funcionais: pagam contas, trabalham, estudam, se casam. Enfim, gente.
A declaração doutrinária Fiducia Supplicans, aprovada pelo papa Francisco e publicada nesta segunda-feira (18), autoriza padres católicos romanos a dar bênçãos a casais do mesmo sexo. A norma também autoriza a recusa por parte dos representantes da igreja. O rito, no entanto, não pode em nada se assemelhar a uma cerimônia de casamento, muito menos acontecer durante liturgias regulares. É uma espécie de clandestinidade oficializada, ainda que seja um movimento estrutural numa engrenagem inflexível como a Igreja Católica.
Entre a militância LGBT, há quem leia o anúncio da medida como "esmola" e a rejeite. Uma das coisas que o espectro cristão melhor faz é expurgar ovelhas do rebanho e todo e qualquer aceno de reintegração vai ser sempre lido com implicância. É do jogo.
Numa outra parte, a da vivência LGBT+ cristã, a medida aprovada pelo Papa é vista com fervor. "Este é um marco significativo e um passo positivo em direção à visibilidade e aceitação das diversas formas de amor e família presentes em nossa comunidade", comunicou em nota a Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT.
O posicionamento do grupo de coletivos leigos ainda pressiona líderes brasileiros, por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a não colocar dificuldades na construção dessa nova dinâmica, acenando para o diálogo. A conferência ignorou o tema nas redes sociais.
Enfim, não há uma grande mudança no entendimento da comunidade LGBT+. Resta esperar o que a boa nova desta segunda-feira vai virar em discursos inflamados em palanques e altares por aí. A segunda carta aos Coríntios, no capítulo 5, versículo 7 diz que "vivemos por fé, e não pelo que vemos". Amém.
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