A força do impacto social é transformadora, capaz de transcender barreiras socioeconômicas e moldar vidas e comunidades inteiras. Nos dias 6 e 7 de setembro, estive no autódromo de Interlagos com 60 jovens do projeto Cri.Ativos da Favela, uma iniciativa da CUFA em parceria com o festival The Town, Instituto Heineken e Favela Filmes. Foram dois dias em que o resultado do investimento social da marca se traduziu em frases como "um dos momentos mais importantes de sua vida", afirmada por Richard Dourado, do Grajaú, bairro do extremo sul de São Paulo.
O curso, com duração de três meses e quatro turmas, iniciou na segunda-feira 18 de setembro. Ele abrangerá diversos módulos, começando com uma introdução à inteligência artificial (IA) que explora conceitos básicos e aplicações no cotidiano. Em seguida, o curso se aprofundará no uso da IA no campo audiovisual, incluindo o reconhecimento facial e aspectos técnicos relacionados à captura, edição e outros aspectos da produção de filmes. Ao final, os alunos apresentarão projetos de conclusão, consolidando seus conhecimentos teóricos e técnicos
Andar pelo autódromo foi um momento histórico tanto para eles quanto para mim. Quando eu estava na idade deles, também estava em busca de oportunidades em diversos projetos, almejando um futuro mais promissor, uma carreira significativa e a chance de demonstrar que alguém que cresceu em uma favela pode fazer sua contribuição à sociedade, superando as estatísticas.
Quem esteve a todo momento acompanhando os jovens durante todo esse processo foi o Preto Zezé, que há 27 anos lidera a Central Única das Favelas (CUFA). Em certo momento, emocionado com projeto, ele comentou: "Em geral, em grandes eventos, os negros costumam desempenhar funções de limpeza, segurança ou na chancela do estacionamento, cumprimentando os participantes. Poucos têm a chance de realmente aproveitar o festival. O projeto CrI.Ativos da Favela está indo na direção oposta, trazendo 60 jovens das periferias para o evento e capacitando-os para futuras oportunidades."
Projetos como o Cri.Ativos ainda são escassos em um mercado de grandes eventos que arrecadam milhões, mas que pouco se voltam para iniciativas de impacto social, as quais costumam atrair pouco engajamento. A equação entre o social e o lucro nem sempre é bem recebida nas grandes agências, fato que aos poucos tem se tornado essencial quando se trata do valor da marca, o que, por sua vez, resulta em maior renda na outra ponta.
Ao mesmo tempo, não basta investir sem um interesse genuíno na causa. Vânia Guil, gerente executiva do Instituto Heineken Brasil, afirma que acompanhar projetos como esse de perto faz toda a diferença e muda paradigmas. "Todos os momentos que compartilhamos com os jovens que participarão do Cri.Ativos da Favela foram de extrema importância. Tive a certeza de que estamos no caminho certo: cada conversa, cada significado identificado entre todos nos mostra que estamos trilhando o caminho sustentável para uma grande empresa no Brasil", comentou Guil.
Na outra ponta, Lucas Stevanini, jovem do Jardim Belval, Barueri, e selecionado para o curso, acrescentou: "Foi uma experiência especial em muitos aspectos. Primeiro, estar em um festival desse porte sem precisar parcelar foi incrível. Conhecer os bastidores e acessar os espaços onde desejo trabalhar foi único. Além disso, reforçou meu senso de propósito. Saio desses dois dias de evento renovado e cheio de inspiração."
O ESG, termo em inglês que ganhou destaque no mundo corporativo, onde o E representa "environmental" (ambiental), o S representa "social" (social) e o G representa "governance" (governança), mesmo que ainda enfrentando desafios em grandes e médias empresas no Brasil, apresenta soluções mais eficazes quando parte de um instituto. Nessas situações, as iniciativas conseguem ser mais sustentáveis e duradouras, de acordo com a própria sigla.
Kalyne Lima, presidente da CUFA Brasil comentou que a perspectiva, da entidade é que nas próximas edições do The Town, e outros festivais, os alunos esteja colocando em prática tudo o que aprenderam. "Ver o entusiasmo e a vontade de cada aluno em aprender e encontrar uma janela de oportunidade através do audiovisual foi um marco", afirma Lima.
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