Sons da Perifa

Sons da Perifa - Jairo Malta
Jairo Malta

Conheça Raul Nunes, criador do Club da DZ7, que batiza o maior baile funk do Brasil

Além de investir na carreira de jovens do Paraisópolis, em SP, empresário leva o baile para outras favelas e festivais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Baile da DZ7 em Paraisópolis, região sul de São Paulo

Baile da DZ7 em Paraisópolis, região sul de São Paulo Jairo Malta

São Paulo

Quem curti manifestações culturais periféricas, seja no Beco da Lama —via na periferia de Natal, Rio Grande do norte, onde acontecem festas de música eletrônica— ou em um baile funk no quilombo urbano da Liberdade, em São Luís, no Maranhão, em algum momento da noite vai ouvir durante alguma música: "Bem-vindos, ao Club da DZ7".

Essa mensagem de boas-vindas que introduz melodias do funks feitas em Paraisópolis, maior comunidade de São Paulo, têm invadido festas em outras regiões periféricas ao redor do país e aparecido nos setlists de DJs acostumados a tocar em todo tipo de balada pelo mundo.

Raul Nunes, de 28 anos, é o criador do Club DZ7
Raul Nunes, de 28 anos, é o criador do Club da DZ7, selo que dá nome ao maior baile funk do país - Divulgação

Para quem não está familiarizado: o Club da DZ7 é um espaço cultural que fica na rua Ernest Renan, em Paraisópolis. Ali, no passado, já teve outras funções como barbearia, tabacaria e até se tornar o bar que tomou a proporção atual. Hoje, além de vender bebidas durante o baile da dezessete —uma das maiores festas de rua do país— o lugar promove eventos, produz novos artistas e ainda tem sua própria marca de roupas.

Quem está nos bastidores da marca é o empresário Raul Nunes, de 28 anos, morador da periferia onde fica a comunidade. Sua veia empreendedora está atrelada ao orgulho de pertencer a cena cultural do funk, sendo seu principal agente para chegar onde chegou, construindo uma empresa que virou o sonho de muitos jovens da região.

"Sempre aparece um menino ou outro por aqui perguntando como eles podem trabalhar no Club, ou, como faz para ser um produtor de funk. Quando dá para acolher o jovem, eu que pergunto: ‘como você está na escola?’, ‘Você respeita seus pais’? Se querem trabalhar comigo, primeiro precisam ser boas pessoas", afirma o empresário.

O baile da dezessete é um pouco mais antigo que os empreendimentos de Nunes. "O baile tem 20 anos, por aí. Ele começou com um pagode no meio da rua financiado pelos bares da região. Era o pagode da dezessete. Sempre no fim do pagode tocava funk. Como a galera curtia mais o funk do que o pagode, chegou uma hora que só tocava funk, até que com o tempo virou um baile", lembra Nune que ainda conta que o número dezessete, que dá nome a festa de rua, vêm do apelido de um dos donos de um dos bares. "Tinha um cara que fazia bebidas e a gente chamava ele de dezessete. Caipirinha do dezessete. As pessoas identificavam o lugar assim: na rua da caipirinha do dezessete. O nome foi mudando até que ficou conhecido como baile da dezessete".

A história do Club da DZ7 começa em 2017 quando Nunes ainda era um representante comercial e tinha uma distribuidora de bebidas. Ele conta que sempre teve o desejo de abrir um negócio na comunidade. Foi quando um dos seus clientes entrou em falência e perguntou se ele queria comprar o estabelecimento. "Eu peguei o pouco dinheiro que tinha e comprei o espaço em parcelas".

No mesmo ano, o espaço foi reformado e virou a Barbearia da DZ7 —até hoje quem vai no baile usando carro por aplicativo, basta buscar a Barbearia da DZ7. Os cortes de cabelo e barba não duraram muito até o espaço virar um bar com tabacaria e se chamar apenas Club da DZ7.

Mas foi em meados de 2019 que o espaço virou um ponto de referência cultural no bairro, isso porque Nunes além do bar liderou uma campanha chamada "Apadrinhe uma Criança", onde instituições o procuravam com a intenção de ajudar financeiramente os estudos de crianças e adolescentes de Paraisópolis.

Raul Nunes, dono do selo Club DZ7, assinando contrato com o artista
Raul Nunes, dono do selo Club da DZ7, assinando contrato com o artista Mc Biel SJ - Divulgação

"Eu sempre tive um viés social muito grande na comunidade, mas com o tempo e o poder que a música possui, acabei me tornando algo que eu não imaginava. Ajudei a concretizar sonhos, o sonho de uma pessoa qualquer se tornar músico, dessa pessoa buscar algo que nunca imaginou que seria possível. De forma muito rápida, as pessoas começaram a frequentar mais meu bar perguntando sobre eventos que iam acontecer na região como dia das crianças e natal e o que aconteceria de novo ali", lembra Nunes.

Em 2020, já no início da pandemia de coronavírus e o movimento caindo aos poucos pelas ruas da favela, Nunes teve a ideia de transformar a marca em um selo musical. "No mesmo prédio onde fica o bar, criei um estúdio de música onde comecei a produzir funks e na sequência criei um canal no YouTube para divulgar as músicas. Mesmo em pouco tempo de trabalho, consegui produzir artistas que hoje tocam e cantam nas principais baladas do país".

Muito além da comunidade, o funk do Club da DZ7 cruzou o oceano e têm aparecido em vídeos com dancinhas em redes sociais e baladas pelo mundo. O MC Delux, que é artista do Club da DZ7, por exemplo, é dono do hit "Eu Bem que Te Avisei", que acumula mais de 200 milhões de visualizações divididos nos streemings de múusica, fez turnê internacional por países da Europa e Japão.

O sucesso foi imediato, em 2021, os funks do selo, que leva o mesmo nome do bar, bateram um bilhão de visualizações no período de um ano —número dividido em mais de uma plataforma de streaming. A conquista da empresa é vista também nas redes sociais. O instagram @dz7oficial, por exemplo, acumula 761.000 seguidores e tem em média 500 milhões de visualizações por ano.

Com a marca em evidência, sua habilidade de desenvolver o movimento cultural começou expandir seus negócios abrindo outras unidades em outras comunidades de São Paulo, por exemplo em Heliópolis, onde existe um dos bailes famosos da capital paulista, o Baile do Helipa, acreditando que ali existem mais jovens com talento a ser desenvolvido.

A visão empreendedora de Nunes vai além das favelas. Durante o festival Primavera Te Amo, que aconteceu dia 3 de setembro deste ano, pela primeira vez o Baile da DZ7 apareceu como atração no evento. "Esse festival jogou nossa marca em outro patamar, mostrou o que somos capazes de fazer", conta o empresário que já imagina festas com o nome do clube circulando pelo país.

Como o próprio Nunes afirma, o Baile da DZ7 é um patrimônio cultural de São Paulo. Independente de qualquer circunstância, se chove ou se tá frio o baile acontece naturalmente de forma orgânica e sem nenhuma iniciativa ilícita por trás. "Eu montei o Club da DZ7 para as pessoas terem uma referência dentro da comunidade e para ajudar. A minha marca forte representa o poder que a favela tem em fortalecer a comunidade e quem vive nela. E para aqueles que ganham o respeito dos que vivem ao seu redor, o céu é o limite".

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.