No palco, dois guitarristas em uma espécie de dueto —às vezes mais parece um duelo— dedilham seus instrumentos misturando ritmos como lambada, carimbó amazônico e até a jovem guarda. Essa é a guitarrada, estilo criado no Pará no fim dos anos 1970 e que formou uma geração de guitarristas no norte do Brasil.
Um dos criadores do ritmo é o "guitar hero" Aldo Sena, se apresenta no show "Baile Quente" a convite do também paraense Saulo Duarte. A apresentação que será no dia 30 de setembro, no Sesc Pompeia, em São Paulo, será o encontro de gerações no em um espetáculo no estilo dos bailes que aconteciam nos anos oitenta e noventa no Pará.
Um pouco mais experiente que Duarte, e com mais de 40 discos lançados, Sena é considerado um dos principais guitarristas do Brasil e por meio dele que a lambada se consolidou como ritmo nacional. Foi ouvindo os merengues do Los Corraleros na Rádio AM que tudo começou. "Eu ouvia também ‘Sem Lenço, Sem Documento’ do Caetano Veloso e a cantora Diana, cantando a música ‘Ainda Queima a Esperança’", afirma Sena.
Diferente dos guitarristas de estilos como rock e blues, na guitarrada paraense, o ritmo acompanha batida percussivas e solos influenciados pelo carimbó. O guitarreiro, como é chamado quem toca o ritmo, precisa ter uma levada mais suave no dedilhar das cordas do que os guitarristas de outros gêneros.
O cantor e multi-instrumentistal Duarte, mistura a guitarrada com outro ritmos nortistas e latinos como o carimbó, zouk, lambada, merengue, cumbia e reggae, transformando no que ele chama de "pop tropical". Dono de uma discográfica com quatro obras, o músico afirma que Sena é uma das principais influências em seu trabalho.
"É uma oportunidade maravilhosa de a gente trazer à tona a música paraense; algo que me enche de orgulho e de prazer, porque é um compromisso devolver isso de alguma forma para um mestre como ele" conta Saulo.
Entre os instrumentos usados nos bailes paraenses, a guitarra é um dos principais da música paraense. Desde a tríade Mestre Vieira e Mestre Curica, que ao lado de Aldo criaram a guitarrada, entre outros ritmos populares, o brega também usa os acordes do instrumento em melodias que ganharam o gosto do Brasil, como os artistas Calypso, Gabi Amarantos e Wanderley Andrade —vale lembrar que o brega é conhecido como patrimônio imaterial do Pará.
Não é incomum passar pelo Ver-o-Peso —um dos principais mercados a céu aberto que fica às margens do rio Guamá— e ver um guitarrista tocando as mais famosas da lambada, brega e carimbó. Uma curiosidade sobre o lugar, por exemplo, é que Joelma e Ximbinha, antes de ficarem famosos com a banda Calypso —chegando a ser considerada pelo DataFolha a banda mais conhecida do brasil em 2007— se apresentavam neste mercado e vendiam seus CDs durante os shows na rua.
A grande influência de Ximbinha era a guitarrada, seu primeiro disco, "Guitarras que Cantam", de 1998, foi um dos responsáveis pelo ressurgimento do estilo no Pará. No Calypso, o músico continuou compondo músicas com influências da guitarrada.
Voltando a seara do show "Saulo Duarte convida Aldo Sena", o repertório da dupla se baseia na conjunção das obras dos dois artistas dialogando entre si. Entram no espetáculo os principais sucessos de Aldo Sena, como "Lambada Complicada, "Lambada Classe A" e "Lambada do Papão", e as mais conhecidas de Saulo Duarte, entre elas "Mistério no Olhar", "Zonzon" e sua própria guitarrada. O público ainda pode esperar por uma música inédita do Aldo e uma parceria inédita dos dois.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.