"Então é Natal, e o que você fez?" Até o clássico natalino na voz da cantora Simone pode parecer uma cobrança para quem não se sente muito bem nessa época do ano.
A frustração por não ter cumprido todas as metas planejadas nos últimos meses e a expectativa de encontrar algumas pessoas da família podem gerar sentimentos de ansiedade e angústia.
Para enfrentar essas situações indesejadas nas festas desse período, alguns acabam recorrendo ao uso de bebidas alcoólicas.
"Como o álcool tem um efeito inicialmente excitante e desinibidor, o abuso pode provocar desde uma simples euforia, que notamos pelas risadas mais altas e a maior sociabilidade, até comportamentos inadequados de diversos tipos", explica a psicóloga Ana Carolina Fantin, que faz parte da equipe técnica de um CAPS ad III (Centros de Atenção Psicossocial), voltado principalmente para transtornos decorrentes do uso de álcool e de outras drogas.
"Não é incomum surgirem brigas e discussões entre as pessoas, uma vez que, com menor senso crítico, coisas que normalmente não seriam faladas acabam sendo ditas, e reações geralmente contidas acabam acontecendo", observa.
Os tímidos também costumam lançar mão da bebida para socializar nesses eventos. "A grande questão é o álcool ser a única forma que a pessoa tem para conseguir vencer a timidez, porque ele pode passar a ser necessário para a festa, para o encontro, para a entrevista de trabalho, para a reunião com a equipe. Aí, o risco de um quadro de alcoolismo surgir é muito grande. O indivíduo passa a não se relacionar com o mundo sem o álcool como intermediário", afirma.
A psicóloga ressalta que a timidez em excesso pode estar associada à baixa autoestima e à insegurança. "É muito importante que a pessoa busque trabalhar esses aspectos em si mesma, com auxílio da psicoterapia, como forma de superar a timidez."
Para evitar o abuso de álcool nessas ocasiões, Fantin diz que o ideal é já sair de casa com a decisão tomada sobre a quantidade que vai beber.
"É importante ter de antemão a programação de beber pouco ou de não beber nada e saber mapear situações que podem ser estimulantes para o consumo excessivo, como o desconforto com alguém na festa ou encontrar amigos que costumam exagerar e insistem para serem acompanhados nas doses, por exemplo", revela.
Uma dica para driblar o efeito da bebida é se alimentar bem e ingerir um copo de água entre uma dose e outra.
Para quem tem histórico de alcoolismo e quer evitar uma recaída, a psicóloga indica definir a programação da noite com clareza, como o horário de chegada e de saída.
"É bom ter em mente situações específicas que gostaria de evitar e diante das quais pode optar por se retirar, estabelecer com quem se sente mais seguro para permanecer na festa e conversar, combinar quem pode ser um ponto de apoio caso sinta insegurança, além de se alimentar bem durante todo o evento e levar bebidas não alcoólicas agradáveis ao próprio paladar ou garantir que elas estejam disponíveis na local", diz.
Abusar do álcool apenas em eventos sociais, no entanto, não significa necessariamente que a pessoa seja alcoólatra. A psicóloga explica que para definir o diagnóstico de alcoolismo é preciso que detectar alguns sintomas, como:
- vontade persistente de beber
- impossibilidade de interromper o uso quando deseja
- tolerância cada vez maior à bebida (precisa de uma quantidade maior para obter o mesmo efeito)
- presença de síndrome de abstinência alcoólica ao interromper o uso (como tremores, irritação e perda de apetite)
- comprometimento da saúde física e mental após o consumo
- comprometimento da vida social, familiar e laboral
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