Um dos locais mais visitados em Los Angeles, na California, é o distrito de Hollywood. É lá que está a famosa "Hollywood Walk of Fame" nome oficial do que chamamos em português de "calçada da fama". Inaugurada em 1958 é um grande chamariz de turistas. O Brasil também desenvolveu suas calçadas da fama, como a do estádio do Maracanã e, aqui em São Paulo, a da praça Charles Miller, no Pacaembu.
Criada em meados da década de 1970 a calçada da fama do Pacaembu foi uma ideia da própria prefeitura de São Paulo para homenagear ali, bem ao lado da entrada do estádio municipal, os grandes nomes do esporte nacional. Tinha tudo para dar certo, atrair turistas e ser motivo de orgulho para os homenageados. Mas não foi bem isso que aconteceu.
Mais simples que sua inspiração hollywoodiana a versão paulistana é basicamente um grande círculo de concreto onde personalidades esportivas foram deixando suas assinaturas além da impressão das mãos ou pés, de acordo com a sua atividade esportiva. Ali estão os boxeadores Ralph Zumbano e Éder Jofre, os futebolistas Oswaldo Brandão (técnico), Leônidas da Silva e Homero (jogadores), Maria Esther Bueno (tênis), Chico Landi (automobilismo), Edson Bispo e Yolanda "Yola" Ferraz (basquete), entre outros.
Jamais tratado com a devida reverência e respeito a calçada da fama hoje em dia parece um monumento ao descaso, algo que infelizmente é tão comum na cultura nacional onde figuras relevantes são legadas ao esquecimento. O monumento está quase que totalmente destruído, com a maioria dos nomes já danificados e ilegíveis.
Entre os que ainda são possíveis de identificar estão as mãos de Ralph Zumbano e Yolanda Ferraz, além dos pés de Homero, jogador que fez história pelo Clube Atlético Juventus e pelo Corinthians. Deste último clube foi que rendeu a homenagem na calçada da fama, pelo seu desempenho no Campeonato Paulista do IV Centenário (1954) onde o alvinegro sagrou-se campeão.
Fotografias e documentos oficiais sobre quem idealizou a calçada da fama do Pacaembu são impossíveis de se encontrar. A impressão é que o monumento foi criado às pressas, na base do improviso, e assim passou toda sua existência dificultando sua preservação. As únicas imagens antigas desta calçada da fama são do acervo familiar do ex-jogador Homero, feitas quando homenageado no espaço e guardadas por seu filho, Ricardo Oppi, que as cedeu para ilustrar essa reportagem.
CANTEIRO DE OBRAS
Os materiais de construção e outros objetos da concessionária que terá a concessão do Estádio do Pacaembu por 35 anos estão amontoados por toda a praça e, claro, ao redor deste monumento. O mato está alto e só mesmo quem sabe de sua existência vai até o círculo de concreto do monumento.
FIO DE ESPERANÇA
Do outro lado desta praça está o Museu do Futebol um dos mais visitados museus brasileiros que, quem sabe, poderia abrigar o pouco que resta preservado da calçada da fama.
Essa ideia foi sugerida por este colunista ao museu, que nos retornou com essa resposta que trás um fio de esperança: "O Museu do Futebol reconhece a importância e está à disposição para contribuir com a memória da Calçada da Fama do Pacaembu dentro de sua vocação, que é a pesquisa e geração de conteúdos sobre o esporte. A instituição, no entanto, não pode tomar iniciativa sobre um espaço que não está sob sua responsabilidade. O Museu do Futebol é uma instituição pública, sem fins lucrativos, que presta contas de todos os seus custos aos órgãos de controle e é legalmente impedido de realizar gastos relacionados a espaços que não estejam formalmente sob sua responsabilidade."
Já a Prefeitura de São Paulo, através da SECOM, respondeu: "A Subprefeitura Sé informa que uma vistoria será feita amanhã (2) para verificar as condições do local.".
A hora de resgatar a dignidade dos que ali estão homenageados é agora. Não é possível esperar mais, sob o risco de que os poucos nomes, mãos e pegadas que ali estão desaparecerem para sempre, já que não podem ser recuperados, uma vez que são todos falecidos.
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