Não é de hoje que nomes de vias públicas e estações de trem ou metrô são alvo de mudança de nomes. Se um paulistano de 1888 viajasse no tempo para o centro de São Paulo de 2023 ele já estaria bastante perdido pela transformação urbanística que ocorreu desde então, e seria ainda pior se tentasse se localizar com os nomes de ruas daquela época.
Após a Proclamação da República, em 1889, vereadores de São Paulo se apressaram a retirar da cidade os nomes de ruas que fizessem vínculo com a monarquia deposta. Era um processo desnecessário mas compreensível, que transformou ruas como da Imperatriz em 15 de novembro, da Princesa em Benjamin Constant e a rua do Imperador em Marechal Deodoro, que posteriormente passou a ser chamada apenas de praça da Sé.
As nomeações de ruas em São Paulo sempre estiveram nas mãos dos vereadores que em boa parte das ocasiões usam esse "poder" de maneira deturpada para ganhar votos, dando nomes absurdos ou sem sentido para certas localizações desprezando a história da cidade sem qualquer pudor.
Na década de 1980 esta balbúrdia chegou em estações do Metrô. Tudo começou em 1985, quando o governador Franco Montoro alterou o nome da Estação Ponte Pequena, cujo nome tem origens históricas, para Armênia visando agradar a comunidade oriunda daquele país. Em 1988, no governo seguinte, a estação Corinthians-Itaquera foi inaugurada e tenho convicção que é a única realmente merecedora do nome, pelo fato de a estação ter sido planejada para ficar junto ao estádio do clube que, como sabemos, demorou um bocado a chegar. O projeto original do estádio você conhece clicando aqui.
Mas esta estação serviu de gatilho para que outros clubes, enciumados, pedissem a mesma coisa. Foi assim que demais nomes, todos demagógicos e caça-votos, começaram a aparecer: Palmeiras-Barra Funda, Portuguesa-Tietê e Juventus-Mooca. Posteriormente a farra das nomenclaturas também gerou nomes desnecessários como Bresser-Mooca ou Jardim São Paulo - Ayrton Senna.
Mais recentemente o desrespeito com o bem publico atingiu um novo patamar: estações de metrô sendo batizadas com "naming rights", onde vemos absurdos como Estação Carrão-Assaí Atacadista, Saúde-Ultrafarma e outras que ainda estão por vir. Encaro como um desrespeito ao cidadão cujos impostos transformaram em realidade as estações do metrô e agora observa essas estações serem exploradas por empresas e ainda sem qualquer tipo de critério, organização ou estudo histórico, minando a sanidade do passageiro com mais propaganda. Já que estas empresas querem expor seus nomes, por que não deixamos o embarque gratuito nessas estações com as passagens pagas por eles? Talvez assim fosse justo.
Por que estou abordando essas mudanças nomes? Bom, além da idiotice que essas mudanças representam, há o apagamento da história da cidade. Alguém que embarcar na Liberdade-Japão vai automaticamente associar o termo liberdade aos japoneses, como aliás muitos pensam quando se refere ao bairro. Contudo o nome é referência à história preta presente na região ou ainda na outra vertente histórica que faz referências aos gritos por liberdade quando da desastrosa execução pública de Chaguinhas, cuja forca falhou três vezes antes de finalmente o matar.
A vítima da vez é a estação de Vila Sônia onde valendo-se da recente comoção da tragédia ocorrida na Escola Estadual Thomazia Montoro, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) resolveu mudar o nome da estação para demagogicamente auferir lucros a sua imagem agregando o nome da professora Elizabeth Tenreiro à estação. Se formos homenagear a todos que são vítimas todos os dias de episódios de violência não haverá nome de rua, avenida ou metrô que não será alterado em São Paulo.
No entanto não sou contrário a uma homenagem a esta professora, contudo creio que o mais apropriado seria homenageá-la não como um nome composto de estação de metrô mas na própria escola onde ela foi friamente assassinada. Pouca gente parou para pensar no nome da Escola Thomazia Montoro, mas o sobrenome é facilmente identificável. Afinal quem foi ela? O que fez ela por São Paulo ou pela educação? Absolutamente nada. Montoro nomeou a escola com o nome de sua mãe tal qual ditadores fazerem mundo afora. Então que tal atribuir o nome da professora Elizabeth Tenreiro à escola? Essa homenagem sim faria todo sentido.
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