O noticiário paulistano dos últimos dias tanto nesta Folha como em demais veículos divulgou a exaustão, com otimismo exagerado, a readequação e reinauguração do famoso cruzamento das avenidas Ipiranga e São João, com a instalação de esculturas de gosto duvidoso, aterramento de fiação, novas placas de rua e, evidentemente, um gasto astronômico de R$ 4,9 milhões. De acordo com a Secretaria Especial de Comunicação (SECOM) da prefeitura de São Paulo, em nota a esta coluna, "é mais uma iniciativa do Município em seu amplo plano de intervenções em diversas escalas para a recuperação da região central".
Contudo, distante 250 metros dali uma praça igualmente relevante para o turismo e história de São Paulo agoniza em situação de penúria há vários anos mostrando que o poder público ignora problemas mais crônicos, numa clara tentativa de criar factoides do que realmente se engajar na recuperação do centro histórico paulistano.
Uma das praças mais antigas da região central da cidade, a Júlio Mesquita é tratada com desprezo por décadas, com o descaso passando de gestão a gestão sem que nada de concreto seja feito para deixá-la em reais condições de uso pelos munícipes. Nas últimas duas décadas a única administração que deu atenção digna a esta praça foi a de Fernando Haddad (PT) que em maio de 2013 restaurou o monumento, que voltou a ter seu chafariz e iluminação funcionando.
Nas gestões seguintes a zeladoria da praça e os cuidados com o monumento foram sendo deixados de lado, permitindo que a praça se deteriorasse e o monumento, desprotegido, tivesse seus mecanismos de iluminação e de funcionamento do chafariz furtados. Aos poucos a praça perdia todo o investimento gasto no local e voltava a estar em situação de abandono, sendo instalados tapumes de madeira para disfarçar o descaso.
Dali por diante o que se viu foram os tapumes aos poucos serem parcialmente arrancados e o local virar ponto de roubos e consumo de drogas. Dependentes químicos e assaltantes transformaram o monumento em um banheiro a céu aberto, como mostra a imagem abaixo.
Mesmo com muita pressão dos moradores do entorno da praça, estabelecimentos comerciais vizinhos e até deste colunista, a subprefeitura Sé levou meses para tomar providências. Arrancou os tapumes velhos e anunciou em suas redes sociais uma reforma, que até agora não chegou.
Mas a placa anunciando a melhoria está lá, quase como uma propaganda enganosa. Anunciado como início da obra em 1 de novembro, passando pouco mais de um mês apenas os novos tapumes foram colocados e mais nada. Aliás na placa não há nem mesmo os valores que serão gastos na obra a ser realizada.
Consultei a subprefeitura Sé e a SECOM sobre o que e quando será feito ali, uma vez que metade do prazo prometido para a execução da obra já tinha passado. De acordo com a nota enviada não haverá por parte da empresa contratada nenhuma reforma, apenas irá cercar o conjunto escultórico com placas de policarbonato, oferecendo um fechamento protetivo ao custo de R$ 246 mil reais.
Já a recuperação do monumento, como recuperação da iluminação noturna, recuperação dos chafarizes da fonte que foram roubados etc eles não têm previsão, e sugerem o projeto "Adote uma obra artística", onde empresas podem adotar monumentos paulistanos.
Dinheiro público em monumento? Só em obras novas.
Embora seja louvável a iniciativa municipal "Adote uma obra artística" não posso deixar de criticar a demagogia por parte da prefeitura paulistana, capitaneada por Ricardo Nunes (MDB), que ao mesmo tempo que gasta R$ 4,9 milhões de reais na reforma da esquina mais famosa de São Paulo alegando recuperar o centro, é incapaz de destinar alguma verba para a recuperação deste importante monumento, o primeiro feito por uma mulher em São Paulo.
Encomendar quatro novos monumentos para a cidade enquanto a Fonte Monumental e tantos outros, estão despedaçados e sujos não há nobreza ou zeladoria alguma, apenas factoides.
Confira abaixo algumas imagens da praça e seu monumento de 2013 a 2022.
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