Se o dia 25 de janeiro é a data mais importante do calendário de celebrações paulistanas, o 9 de julho vem logo atrás em relevância para a Cidade de São Paulo e em primeiro lugar para a identidade de todos os demais paulistas.
Em 2022 comemora-se 90 anos da Revolução Constitucionalista de 1932 conflito armado que começou com as rusgas da ascensão de Getúlio Vargas ao poder, em 1930, e que chegou em vias de fato dois anos mais tarde.
O estopim foi no fatídico dia 23 de maio, quando centenas de manifestantes concentrados na Praça da República rumaram para as portas de um edifício na Rua Barão de Itapetininga – sede do então Partido Popular Paulista – e lá foram recebidos com uma saraivada de balas que acabaram por ferir pessoas na multidão e matar 5 cidadãos que imediatamente se transformaram em mártires da revolta dos paulistas, ponto de partida do conflito armado que se iniciaria um pouco mais adiante, no 9 de julho de 1932.
O trágico acontecimento da Praça da República rapidamente envolveu os paulistas em torno da necessidade de enfrentamento à Ditadura Vargas, em prol do ideal de uma nova constituição para o país, numa união popular raramente vista no Estado mais rico e influente do Brasil.
Dos que tombaram, três já morreram ali mesmo no local do tiroteio: Martins, Miragaia e Camargo. Um quarto, Dráusio, viria a óbito cinco dias depois em um hospital da capital. Ele era um garoto e tinha somente 14 anos de idade. Juntos seus nomes formaram a sigla que até hoje representa a identidade paulista e seu ideal revolucionário: MMDC.
Mas se foram cinco os que tombaram em decorrência das ações daquele trágico 23 de maio, porque a sigla tem apenas 4 iniciais, dos já consagrados Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo?
O QUINTO ELEMENTO:
Orlando Oliveira Alvarenga, mineiro de Muzambinho, nascido em 18 de dezembro de 1899, vivia na capital paulista com sua mulher e filho e trabalhava como escrevente juramentado. Ele não fazia parte dos manifestantes na porta do prédio do Partido Popular Paulista e estava somente de passagem pela rua, vindo de uma atividade relacionada a seu trabalho.
Contudo Alvarenga também foi alvejado e caiu mortalmente ferido ali mesmo junto aos manifestantes, vítima de um tiro de fuzil que esfacelou sua coluna. Levado ainda com vida para a Santa Casa de São Paulo, posteriormente foi transferido para o Hospital Santa Rita onde veio a falecer em 12 de agosto, quando o conflito já estava a pleno vapor.
Na ocasião de seu sepultamento, no Cemitério São Paulo, houve o reconhecimento que ali estava um legítimo mártir da revolução. Entretanto com o tempo Alvarenga, por não estar presente na sigla MMDC, acabou no esquecimento.
Seu reconhecimento como o quinto falecido decorrente do fatídico evento de maio de 1932 se daria muitos anos depois com o trabalho do pesquisador Hely Felisberto Carneiro, membro do Instituto Histórico Geográfico e Genealógico de Sorocaba (IHGGS). Ele coletou provas de que Alvarenga foi esquecido do massacre por erro histórico, sendo que o ocorrido foi posteriormente reconhecido pela Sociedade Veteranos de 1932.
Em 7 de julho de 1958 em evento já alusivo aos 26 anos da Revolução Constitucionalista, os restos mortais de Orlando Oliveira Alvarenga foram exumados e preparados para serem depositados no Monumento Mausoléu aos Heróis de 1932, em 9 de julho daquele ano. Desde então Alvarenga repousa justamente reconhecido com um dos que tombaram por São Paulo em 1932.
Apesar do reconhecimento, ainda que tardio, até hoje não houve a alteração da sigla MMDC para MMDCA. Que os 90 anos da Revolução Constitucionalista sirvam de inspiração para esta justa mudança a tempo do centenário, em 2032.
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