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Proibidão é palavra cantante, escreve leitor

'É o dito, o desdito, o escrito; quem não gosta, bom sujeito não é', diz

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marcelo brandão

"O proibidão representa a redenção/ de um 'lugar de fala'/ que deveria permanecer no silêncio", escreve Écio de Salles.

Proibidão é palavra cantante. Rima. Ritmo. Repetição. Respiração. Corpo. Voz. Sua coluna vertical está no som. Seus membros na seleção. Suas artérias são os versos. Do cóccix ao pé, o impacto. No pescoço o calafrio, o arrepio. Mãos ao ar. Barulhinho na consciência. Viva o verso livre.

Proibidão é imagem. Antes as cores desconcertantes de Tarsila. As formas e as desformas. Ângulos, linhas e retas. Hoje os cacos de Varejão. Os muros. Os postes. As engrenagens. Os projetores nos prédios da Paulista. As luzes de led nos estádios. PC, Smartphone ou bigphone? Viva a experiência multissensorial.

Proibidão é nação. Arrastão. Minha bandeira não tem cor. Verde. Vermelha. Amarela. Preta. Azul anil. Libertas que será também. Ouviu do Twitter ruidoso, um povo que só espalha fake news. O meme vale mais que a universidade. O zap não vai à escola e o pessoal o espalha. "Coé" desse áudio, parce? Uma vaia para a burrice social. Enquanto se baixa o app, o parlamento quer mercantilizar à flor da pele. A Faria Lima não reclama do déficit social. Os anarcocapitalistas choram moedas de ouro e não sabem construir um verso. A bitcoin é a rima do riso. Entre a comunidade e o condomínio, pontes não há. Pare. Pense. Viva a democracia.

Proibidão são os Andrades. Tupi no fundo do mato virgem é gauche. Da estante ao "radin" de pilha, do YouTube ao play. Pessoa e os manos Caetano, Brown, Buarque, Lee e Lima. Quem inventou o passinho foi a Bossa Nova. Os tropicalistas invadiram a sala de jantar e quebraram todos os pratos de porcelana. Proibidão é quem não quer se calar. O tecno-brega está nas periferias latino-americanas e se chama reggaeton. O Rap é o pipoco da comunidade que salva. MPBLGBTQIA+: o alfabeto plural. A voz suprema do soul da Liniker anuncia o estandarte-arco-íris com Hooker, Letrux, Majur, Jump, Jaloo e Jão. Em que quebrada rola o baile, o fluxo e o pancadão? Viva o "rolezin".

Foto: Gabriel Cabral/Folhapress

Proibidão são as conexões. Inteligência artificial Freud não explica. Nossa psique não é uma big data cercada por tresloucados algoritmos. A pergunta que não quer calar: você é software ou hardware sexual? E os digisexuais fazem amor com o processador sem revelar seus dados. Vivemos um mundo em rede. Um mundo na rede. Fios. Antenas. Wi-Fi. Ficar off em uma civilização on é ser rei. Viva a alienação digital.

Proibidão é liberdade. Ver. Ler. Ouvir. Ir. Falar. Amar sem medrar. Resistência já. Ninguém entra no armário. Ninguém volta para a cozinha. Ninguém vai para o pelourinho. Mobilização total. A caretice virou um lugar de fala. A censura de terno Garbo está à espreita enquanto o bloco Explode Coração na esquina da Ipiranga com a São João grita: Proibido não. Viva o desbunde.

Proibidão é tesão. A palavra transcende tempo, espaço e comove. Incomoda. Desperta e adormece. Como uma fênix sai da página e da tela, vai para a rua. Encandeia. Encanta e todo mundo canta, grita, sussurra, urra e assovia. É o dito, o desdito, o escrito. Quem não gosta, bom sujeito não é.

São Paulo, verão de 2015 ao inverno de 2023. Axé.


Marcelo Brandão é da geração X, mestre e professor de Literatura em São Paulo. Lê, observa e escuta o mundo ao seu redor, enquanto caminha pelas belas e degradadas ruas das cidades de seu estado, do país e do mundo.

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