Políticas e Justiça

Editado por Michael França, escrito por acadêmicos, gestores e formadores de opinião

Políticas e Justiça - Michael França
Michael França
Descrição de chapéu Vida Pública

A diversidade não vai morrer

Na esteira de protestos em diversas partes do mundo, empresas assumiram compromissos públicos com a inclusão

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Ricardo Sales

Formado em relações públicas pela ECA-USP e sócio-fundador da consultoria de diversidade e inclusão Mais Diversidade

A questão da diversidade se impôs nos últimos anos como um dos temas mais relevantes do meio corporativo, tanto nos Estados Unidos como no Brasil. A pressão dos movimentos sociais, o aumento das desigualdades e a chegada de novas gerações ao mundo do trabalho levaram muitas grandes empresas a repensar modelos de gestão e a refletir sobre a importância da inclusão de grupos sub-representados.

Houve avanços, embora não na velocidade necessária e ainda longe de dar conta dos imensos desafios que são reproduzidos nas organizações. Mulheres, pessoas negras, com deficiência, 50+ e LGBTQIA+ ainda enfrentam preconceito e são minoria nos cargos de liderança.

O ano de 2020 foi particularmente importante para esta agenda. O contexto de pandemia e o assassinato de George Floyd jogaram luz sobre a importância de combater a discriminação em todos os espaços.

Homem com barba, cabelos lisos e escuros e óculos de armação grossa. O retrato é em preto e branco com fundo neutro
É formado em relações públicas pela ECA-USP e sócio-fundador da Mais Diversidade, maior consultoria de diversidade e inclusão da América Latina - Divulgação

Na esteira de protestos em diversas partes do mundo, empresas assumiram compromissos públicos com a inclusão, estabeleceram metas e indicadores e contrataram profissionais dedicados exclusivamente a fazer a diversidade avançar.

Passados quatro anos, nos Estados Unidos, o cenário é outro. A decisão da Suprema Corte norte-americana de pôr fim às ações afirmativas nas universidades ecoou também nas empresas.

Chief Diversity Officer, as lideranças de diversidade, de gigantes como Disney, Netflix e outras grandes organizações foram demitidos, e companhias como Amazon e Starbucks enfrentam questionamentos judiciais em relação a seus projetos de inclusão.

O tema despertou atenção de extremistas do Partido Republicano e, juntamente com toda a agenda de ESG, ganhou a pecha de capitalismo woke, expressão pejorativa usada por aqueles que defendem a ideia de que o único papel das empresas é gerar lucro, sem qualquer envolvimento com questões ambientais e sociais.

O meio corporativo brasileiro aderiu com atraso à agenda de diversidade. O tema cresceu por aqui apenas nos últimos dez anos. Foi neste período, por exemplo, que surgiram movimentos empresariais que reúnem organizações comprometidas com o assunto.

Embora tenhamos chegado depois, fizemos avanços importantes. O Brasil hoje conta com inúmeros profissionais qualificados para tratar do tema e desenvolveu ferramentas e processos que nada ficam devendo ao que se vê no exterior.

Além disso, nosso contexto político, em que pese a polarização, tem diferenças em relação àquele dos Estados Unidos. A atual administração federal, por meio do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, por exemplo, entende a agenda de diversidade no meio empresarial como uma de suas prioridades.

Legislações recentes estabelecem a obrigatoriedade de treinamentos sobre o tema (Lei 14457/22) e dizem que é de responsabilidade das empresas a promoção da diversidade e da inclusão no ambiente de trabalho (Decreto 11.795/23).

No Congresso Nacional, tramita o PL 572/22, que cria o Marco Nacional de Direitos Humanos e Empresas. No campo da autorregulação, CVM e B3 vêm divulgando regras e orientações sobre o papel das companhias de capital aberto neste tema.

A agenda de diversidade enfrenta solavancos, mas isso não deve assustar entusiastas do tema. No processo social, infelizmente, nem sempre é só para frente que se anda. Tentativas de retrocessos são reações esperadas diante de avanços conquistados.

Com os Estados Unidos recuando, o Brasil tem condições de liderar este tema, rumo a uma economia mais produtiva, justa e inclusiva para todas as pessoas. Realizar esta possibilidade depende da continuidade do trabalho de empresas comprometidas e da atuação de governos e movimentos sociais.

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Ricardo Sales foi "Gente", de Caetano Veloso.

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