Último representante do "resto do mundo" (seleções de fora do eixo Europa-América do Sul) vivo na Copa do Mundo do Qatar, Marrocos decidiu fazer uma mudança ousada a menos de três meses do início do Mundial.
No dia 31 de agosto, a Federação Real Marroquina de Futebol (FRMF) anunciou Walid Regragui, 47, como novo treinador da seleção, em substituição ao demitido Vahid Halilhodzic, 70.
O bósnio teve o mérito de classificar Marrocos para a Copa qatariana, feito obtido em março. Assim, pareceu estranha e arriscada a decisão do presidente da FRMF, Fouzi Lekjaa, de fazer a modificação.
O cartola explicou: era necessário mexer porque havia algum tempo detectara problemas de relacionamento entre Halilhodzic e os jogadores da seleção.
Vestiário ruim, sabe ele e sabem todos, é quase certeza de fiasco no futebol.
Nesse contexto, Halilhodzic decidira excluir do time, deixando de convocá-los, atletas de amplo renome, como o meia-atacante Ziyech (do inglês Chelsea), 29, terceiro maior artilheiro de Marrocos na história, e o lateral Mazraoui (do alemão Bayern), 25.
"A seleção nacional não pode ficar sem os marroquinos que jogam ao mais alto nível em todo o mundo, seja por que motivo for", afirmou Lekjaa em declaração publicada no site da Fifa.
"Nem jogadores nem torcedores entenderam o motivo da exclusão de atletas que passaram seis ou sete anos na seleção", prosseguiu o dirigente. "A relação entre os jogadores e a comissão técnica foi negligenciada, assim como a motivação para fazer o melhor. Esse deve ser o foco do treinador".
Ex-lateral direito da seleção marroquina, Regragui, nascido na França, chegou com a credencial de ter levado o Clube Atlético Wydad ao título da Champions League africana deste ano.
O novo treinador reintegrou os dois craques excluídos, mais o atacante Hamdallah, dono da camisa 9, e recriou um ambiente positivo, como queria o chefe da federação.
Desde que Regragui assumiu, Marrocos está invicto, com cinco vitórias e três empates, e é uma das gratas surpresas do Mundial no Oriente Médio.
Na fase de grupos, empatou sem gols com a Croácia, atual vice-campeã do mundo e próxima rival do Brasil, e depois derrotou a Bélgica (2 a 0) e o Canadá (2 a 1), classificando-se em primeiro lugar e com somente um gol sofrido.
Os bons resultados fizeram o técnico marroquino transbordar otimismo: "Não vamos parar por aqui, o céu é o limite. Por que não sonhar com a conquista do troféu?".
Esse sonho, mesmo a princípio parecendo um devaneio, vai ficando a cada dia menos distante.
O ambiente interno está tão bom que, com espírito de luta de sobra, os marroquinos mandaram para casa nas oitavas de final, com uma vitória nos pênaltis, a poderosa Espanha.
Mesmo que o futebol não tenha sido dos melhores, Ziyech, Mazraoui, mais o lateral Hakimi (colega de Neymar, Messi e Mbappé no PSG), o volante Amrabat e o zagueiro e capitão Saiss, outros expoentes do selecionado africano, imbuíram os companheiros de entusiasmo e vontade, suficientes para domar e suplantar a Fúria.
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