A China mantém certo segredo sobre seus planos para enviar astronautas à Lua, mas um passo importante foi divulgado pelo programa espacial chinês na semana passada. O foguete de alta capacidade desenvolvido para a missão, Chang Zheng 10 (Longa Marcha 10), passou de forma bem-sucedida por um teste de ignição estática do primeiro estágio, em que os motores são acendidos com o veículo preso ao chão.
A operação foi conduzida em 14 de junho, em uma instalação em Pequim, e três motores YF-100K, movidos por querosene e oxigênio líquido, se acenderam por vários minutos. Em sua versão final, o lançador terá sete motores em seu núcleo central.
"O teste é basicamente uma verificação abrangente do primeiro estágio", disse Xu Hongping, engenheiro do programa, ao canal estatal chinês CCTV. "Foi um sucesso completo, estabelecendo uma fundação sólida para subsequente pesquisa e desenvolvimento e realização de nosso programa completo de exploração lunar tripulada."
A configuração do lançador lembra muito a do Falcon Heavy, veículo de alta capacidade desenvolvido pela americana SpaceX. A exemplo dele, o Longa Marcha 10 terá um primeiro estágio com três núcleos idênticos, cada um com sete motores (no Falcon Heavy, são nove).
Uma diferença importante é que, enquanto o Falcon Heavy tem dois estágios, o lançador chinês terá um terceiro, propelido a hidrogênio e oxigênio líquidos. A configuração dá a ele capacidade ligeiramente maior que a do foguete da SpaceX, podendo transportar até 27 toneladas numa rota translunar e 70 toneladas à órbita terrestre baixa (contra 64 de seu equivalente americano).
A capacidade do novo veículo inviabiliza a realização de uma missão lunar tripulada à moda das antigas Apollo, em que todos os elementos eram lançados num único foguete, o Saturn V, na direção da Lua. Em vez disso, os chineses farão a missão com dois lançamentos do Longa Marcha 10. O primeiro levará um módulo de pouso lunar até a órbita da Lua, e o segundo levará uma cápsula com os taikonautas. Após a acoplagem, dois deles vão se transferir para o módulo de pouso e descer até o solo.
Dizem os chineses que o objetivo é realizar essa missão antes de 2030. Espera-se que o primeiro voo do Longa Marcha 10, naturalmente sem tripulação, possa ocorrer em 2027.
O programa também prevê o desenvolvimento de uma versão mais modesta do foguete, com um único núcleo no primeiro estágio (o equivalente ao Falcon 9 da SpaceX) e capacidade de recuperação para reuso. Ele seria usado para levar tripulação e carga à estação espacial chinesa Tiangong, exatamente como já faz o Falcon 9 para a Estação Espacial Internacional.
Para o programa Artemis de retorno tripulado à Lua, a Nasa espera usar uma combinação dos foguetes SLS (desenvolvido pela própria agência com base em tecnologias dos antigos ônibus espaciais) e Starship (da SpaceX), com primeira volta ao redor da Lua marcada para o fim de 2025 (essa data mais segura) e primeiro pouso tripulado até o fim de 2026 (com grande possibilidade de atraso). Quem chega primeiro?
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.
Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.