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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

Nasa e Congresso dos EUA estão perdidos no rolê dos óvnis

Audiência na Câmara virou espetáculo circense na semana passada

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As instituições americanas, do Congresso à Nasa, estão perdidas no rolê dos discos voadores, que agora atendem eufemisticamente por uma nova sigla, UAP ("unidentified anomalous phenomena"). Que diabo seria um fenômeno anômalo não identificado? Parece piada –e não deveria ser.

Vamos começar pelo que é real. Sim, há coisas estranhas que aparecem no céu vez por outra. Sim, elas são registradas sobretudo por sistemas militares de vigilância. A imensa maioria delas acaba se esclarecendo de forma prosaica. Em levantamento realizado pelo Aaro (Escritório de Resolução de Anomalias em Todos os Domínios, na sigla em inglês), um órgão do Departamento de Defesa dos EUA, cerca de 2% a 5% dos objetos observados por sensores e/ou pilotos militares ficam sem esclarecimento. Na maioria deles, o problema é que faltam dados para uma identificação positiva. Mas também é verdade que há poucos e raros casos e registros que desafiam explicações convencionais.

Então é bem-vindo o esforço recente de aumentar a transparência dos órgãos governamentais americanos sobre o que tem sido observado nos céus. O Aaro tem de apresentar um relatório anual ao Congresso, e o próximo deve sair na terça (1º). Não espere nada bombástico, apenas uma atualização dessas estatísticas.

David Grusch, ex-funcionário do Pentágono, usa a "estratégica (sic) da persuasão" para convencer membros da Câmara dos EUA da existência de discos voadores capturados pelo governo americano
David Grusch, ex-funcionário do Pentágono, usa a "estratégica (sic) da persuasão" para convencer membros da Câmara dos EUA da existência de discos voadores capturados pelo governo americano - Elizabeth Frantz/Reuters

É igualmente justificável o esforço de desestigmatizar o tema, para encorajar pilotos a reportarem o que veem. Durante muito tempo, eles tiveram medo de apontar suas observações, sob risco de, na melhor das hipóteses, serem ridicularizados e, na pior, considerados inaptos. É bom que isso mude.

Nada disso, contudo, justifica o circo bizarro que vimos na audiência da semana passada na Câmara, onde esses casos foram misturados a "denúncias" absurdas. O que David Grusch, ex-funcionário do Pentágono, protagonizou lá é constrangedor no nível confundir Mia Khalifa com cientista biomédica.

O sujeito basicamente subscreveu toneladas de teorias de conspiração segundo as quais o governo americano teria posse de naves alienígenas e até mesmo corpos desses visitantes. E, como você poderia desconfiar, sem qualquer prova. O Congresso servir de palco a esse oportunismo circense e potencialmente estelionatário acaba por anular todos os esforços de desestigmatizar o tema.

E a Nasa, no meio disso? A agência espacial foi direcionada, no ano passado, a formar um grupo independente de pesquisadores para sugerir maneiras de abordar cientificamente o tema dos óvnis. Em maio, realizou uma audiência pública ultraconfusa. A tarefa é mesmo inglória. A ciência parte do teste de premissas e hipóteses, e é muito difícil planejar experimentos e observações destinados a elucidar "fenômenos anômalos não identificados". O relatório final do grupo deve sair agora em agosto.

Se a Nasa quisesse realmente abordar a questão de maneira científica, deveria se preocupar menos em explicar coisas estranhas que pilotos veem no céu e pensar mais em uma maneira sistemática de buscar evidência de tecnologia extraterrestre em visita ao Sistema Solar –uma hipótese que, por si só, não tem nada de absurdo. E é, no fim das contas, o que todo mundo realmente quer saber.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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