Apesar dos avanços no debate sobre a participação dos pais na criação do filhos, os indicadores das paternidades ainda são negativos. Não se trata de "ajudar" a trocar uma fralda ou dar um banho nos filhos e postar a foto como "pai do ano".
É sobre assumir a responsabilidade, muitas vezes invisível, que a mãe carrega nas costas diariamente --inclusive nas casas onde os pais são considerados parceiros.
"A invisibilizacão desta pauta é o que mais promove a estagnação da causa e mantém problemas graves e estruturais como a sobrecarga física e mental das mulheres", afirma o idealizador do coletivo Pais Pretos Presentes, Humberto Baltar.
Para ele, o modo mais prático e eficaz de mudarmos essa realidade é promovendo discussões nos âmbitos corporativo, educacional e principalmente governamental, abrangendo as políticas públicas.
Se pensarmos que a licença parental ou a simples ampliação da licença paternidade ainda é vista com maus olhos por muitos governantes e empresas, entenderemos quantas conversas serão necessárias para alcançarmos dinâmicas parentais mais equitativas.
"Precisamos promover a participação masculina nos espaços de discussão das masculinidades e paternidade, como coletivos, rodas de conversa e redes de apoio", diz o educador.
Mais acostumadas com esses espaços de trocas, as mulheres desempenham um papel fundamental ao encorajar maridos, filhos, irmãos, pais e amigos na adesão a estes espaços de apoio. No Coletivo Pais Pretos Presente, por exemplo, a maior parte dos homens chegou por intermediação de uma mulher.
Humberto também inclui na discussão a necessidade de combater o racismo e normalizar a neurodiversidade. "Crio meu filho oferecendo diversas referências positivas acerca da ancestralidade, cultura, aparência e condição neurodiversa dele. Além de ser um menino preto, o Apolo está no espectro autista, assim como eu, e percebo ainda uma grande estigmatização de pais e filhos neuroatípicos na nossa sociedade.
Humberto é um dos organizadores do evento PAI 2022: "Qual legado queremos construir?", que ocorrerá online no YouTube entre os dias 15 e 16 de agosto e reúne pais educadores, pediatras, escritores, psicólogos, psicanalistas, empreendedores e músicos.
Entre os pilares que serão debatidos na sexta edição do evento estão a criação sem violência, criação antirracista, anticapacitista e antimachista.
"Precisamos entender que o machismo não é sobre o outro, é sobre 'eu'. É comum a ideia que 'eu não sou assim', 'eu não sou machista'. Todos somos, é estrutural", explica Tiago Koch, também organizador do evento.
Criador do canal Homem Paterno, Koch reforça que buscar conhecimento e ser presente "não torna ninguém um paizão. Fazer isso é uma responsabilidade paterna", ressalta.
"Precisamos debater esses temas entre homens e criar estratégias para acabarmos com algo que nós mesmo criamos: o machismo. Não existe mais espaço para passarmos pano para quem quer que seja", conclui.
PAI 2022, Qual legado queremos construir como pais?
Online, dias 15 e 16 de agosto, a partir das 19h.
Ingressos social gratuito, R$ 50,00 e R$ 100,00 (para "paitrocinadores")
Inscrições pelo site Sympla.
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