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Netos gerenciam redes sociais de avós e viralizam com autenticidade de idosos

Encontro de gerações, humor e ternura familiar geram identificação no público

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São Paulo

A relação entre netos e avós pode ser negligenciada por algumas pessoas. Mas ganha quem entende a preciosidade dessa aproximação. A forma encontrada para mostrar este elo, porém, é diversa. A cumplicidade de Gabriel Oliveira, 25, e Maria Bezerra, 88, do perfil Vovó Maria e o Neto é demonstrada com o influenciador jogando água da mangueira na matriarca após gritar: "Quem se mexer vai pagar a cerveja!"

Acompanhada da gargalhada marcante nos vídeos, ao #Hashtag, a avó afirma que se diverte na produção dos conteúdos. "Fiquei ali, como uma estátua, recebendo água no rosto e depois dei risada. Tem gente que acha que estou sendo maltratada, mas é só brincadeira", diz.

Maria Bezerra, 88, do perfil Vovó Maria e o Neto
Maria Bezerra, 88, do perfil Vovó Maria e o Neto - Reprodução

O que poderia ser visto por alguns como desrespeito é demonstração de afeto para a dupla de Cotia (SP). "Fora da câmera é igual, a gente não se adaptou para tentar viralizar", diz o neto. "Tudo é aprovado por ela antes, a menos que seja uma surpresa, algum susto, mas mostro a gravação para ela antes e só depois publico."

Perfis de idosos têm conquistado as redes sociais. Essa tendência veio após a pandemia de Covid-19, quando os mais jovens gravaram os avós para entretenimento das famílias. O gosto pelas ferramentas permaneceu e as personalidades definem os recortes. Tem para todo gosto, desde tutoriais de maquiagem, palhaçadas, desaforos e até rotinas de cuidados.

"É essa energia contagiante que faz com que eles sejam tão queridos e tenham uma conexão única, inclusive com os jovens que os assistem, que os enxergam como inspirações para envelhecer e sentem como se eles fossem os próprios avós", afirma Maíra Carvalho, diretora de operações do TikTok no Brasil.

Um desses casos foi o dos Vovós Tiktokers, quando o casal Nair Donadelli e Nelson Miolaro, começou a ser gravado pelos netos Rennan, 34, e Naiara Moreno, 31, dançando e até dublando cenas românticas.

Mesmo após a morte do esposo em 2021, Nair quis continuar com a produção dos vídeos de humor, cantando funk e atuando em sua casa, que ela diz ter se transformado nos estúdios da Vera Cruz, que funcionaram na década de 1950 em São Bernardo do Campo (SP). "Eu gosto de ver o povo feliz", afirma a influencer de 94 anos.

Com o sucesso, vieram também as publicidades, que exigem prazos. A dupla de irmãos diz que é preciso deixar claro para as marcas que o tempo aqui é outro.

"O que um influenciador mais novo demoraria 15 segundos para fazer um story, para a gente levaria três, quatro horas", afirma Renan. "Não tem como a gente ter uma responsabilidade para ter uma entrega de resultado diário, é tudo muito orgânico", complementa Naiara.

O mesmo é defendido por Gabriel Arantes, 22, neto de Coracy, 81, do Blog da Cora. "Eles querem que a gente vá ao estúdio com equipe de filmagem, mas quem acaba comandando sou eu. Os diretores já quiseram por teleprompter e ela não consegue acompanhar esse ritmo."

Arantes faz a curadoria dos conteúdos, edição e maquiagens da avó. Concilia a produção com um mestrado de engenharia química, em São José dos Campos (SP).

"Eu amo trabalhar com meu neto e sei que ele faz com prazer", diz Cora. "Eu gostaria que todos tivessem esse cuidado com os avós, porque eles têm que saber que isso é algo que daqui a pouco vai acabar."

Pâmela Frison, 23, também é influenciadora e, após a repercussão positiva ao exibir a rotina morando com os avós em Poços de Caldas (MG), criou um perfil separado para a avó, Tereza, 78.

"Para ela, isso é mais um passatempo comigo. Ela não vai criar uma personalidade nova na frente das câmeras porque não liga se estou gravando ou não", afirma Frisson. "Por mais que ela não saiba mexer, está incluída nas tecnologias."

Outro casal que viraliza nas plataformas são os Senhores Bacanas, casados há 69 anos. Os vídeos se dividem entre as aventuras caseiras de Joana, 89, e o trajeto que Valdemar, 90, faz há mais de 30 anos para vender caldo em Bauru (SP).

Foi pensando em expandir as vendas que o neto Kelvin Almeida, 29, começou a publicar os vídeos do casal no TikTok. "Eu não imaginava que eles iriam se dar tão bem com a produção de conteúdo ao ponto de hoje a gente precisar fazer o 'arrume-se comigo' e a vó já coloca o celular na frente da janela porque ela já sabe que a luz natural é muito boa", afirma Almeida.

Com seis filhos, oito netos e quatro bisnetos, a casa tem tudo para ser cheia, mas foram as redes sociais que aumentaram o movimento. "Enquanto tiver vídeo [para fazer], estou satisfeito", diz Valdemar.

"Tem gente que conhece a gente de tudo quanto é lugar, até no Japão, já pensou? Eu fico boba de ver, sou tão pequena, só estou aqui dentro da minha casa", afirma Joana. "Eu não quero mais morrer. Já falei para Deus não me levar, porque tenho muita coisa para fazer."

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