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No Dia do Cinema Nacional, conheça o perfil que, com humor e pornochanchada, divulga filmes brasileiros

'O resgate do nosso cinema é um resgate da nossa história e uma contribuição para a visão da nossa atualidade', diz criador da página 'cinema brasileiro out of context'

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São Paulo

Após passar um ano da pandemia imerso no cinema da pornochanchada para a produção do trabalho de conclusão de curso em arquitetura, Lucas M., 25, entrou em crise existencial: ele não sabia o que fazer com o conhecimento. Então, o morador de Poá (SP) resolveu criar o perfil "cinema brasileiro out of context" no Twitter (atual X).

Imagem dos créditos iniciais de "As taradas atacam" (1978), filme de Carlo Mossy
Imagem dos créditos iniciais de "As taradas atacam" (1978), filme de Carlo Mossy - Reprodução

A página com mais de 116 mil seguidores publica diariamente trechos de filmes nacionais, principalmente do gênero da pornochanchada, que se tornou popular na década de 1970 ao mesclar comédia e sexo explícito. Apesar do nome sugestivo, o dono do perfil, que quer manter o anonimato, afirma que adora abordar contextos históricos em suas publicações.

Segundo Lucas, que trabalha com animação e design gráfico, o objetivo da página é apresentar sem preconceitos o acervo cinematográfico nacional para um público que ainda não o conhece. "A pornochanchada e os filmes da Boca do Lixo entraram em uma certa obscuridade na história do cinema brasileiro e na própria mídia", afirma.

Boca do Lixo era o apelido dado à região da Luz, no centro da cidade de São Paulo, onde muitas produtoras de cinema se instalaram na década de 1970. A proximidade com a estação ferroviária atraiu distribuidoras internacionais como Paramount e MGM nos anos 1920 e 1930, mas acabou se tornando na década de 1950 um bairro tomado pela prostituição e criminalidade.

No final dos anos 1960, o local foi resgatado culturalmente, mas ainda convivia com problemas sociais. As produções da Boca do Lixo são os filmes produzidos e gravados na região nesse período.

Lucas revela que cenas com texto e sexo de filmes lançados em meados da década de 1980 sempre fazem sucesso no perfil: "São diálogos bem marcantes, porque quase sempre conseguiam inserir questões políticas naquela época de transição pós-ditadura."

Trechos de filmes que se relacionam com assuntos do presente também costumam ganhar o engajamento do público. Ele conta que um dos mais memoráveis foi publicado no dia do segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Na época, ele publicou uma cena de "Café na Cama" (1973) em que o personagem, chamado Jair, respondia a uma pergunta: "Jair não, já era!". A cena viralizou. O vídeo também está disponível no canal do YouTube Rolos de Acetato de um Lixo.

Lucas avalia que o sucesso da página é um reflexo do aumento do interesse do público nos filmes nacionais. "O repertório do cinema brasileiro é muito diverso e essa onda de redescobertas é muito importante para a nossa história, inclusive ao inserir nas discussões e temáticas atuais", diz.

O dono da página conta que durante o mês de junho tem trazido assuntos relacionados ao público LGBTQIA+ dos anos 1970. A iniciativa é fruto da parceria com o projeto Cinelimite, organização sem fins lucrativos dedicada à exibição, distribuição e digitalização d cinema brasileiro. "O resgate do nosso cinema é um resgate da nossa história e uma contribuição para a visão da nossa atualidade", afirma.

Apesar da dedicação, ele garante que administrar o perfil é um hobby que não lhe trouxe retorno financeiro: "Nunca me senti no direito de monetizar a página. Tenho total noção de que ainda são produtos com direitos autorais que teoricamente eu não poderia usar."

Sucesso no Twitter, o perfil está tentando se encontrar no Instagram, que até agora não soma nem mil seguidores. "Até relutei um pouco, pois considero o público bem diferente do Twitter, mas vem sendo uma experiência diferente."

Veja algumas publicações do perfil @outcinemabr:

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