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Livro 'A Geração Ansiosa' me fez perceber que minhas horas no Instagram eram totalmente desperdiçadas

Abandonar Instagram não significa ter saído de todas as redes, mas é uma redução de danos

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Avaré (SP)

Abandonei o Instagram há um mês após a leitura de "The Anxious Generation: How the Great Rewiring of Childhood is Causing an Epidemic of Mental Illness" ("A Geração Ansiosa: Como a Infância Hiperconectada Está Causando uma Epidemia de Transtornos Mentais", que será lançado em português pela Companhia das Letras), do psicólogo social americano Jonathan Haidt.

Os executivos das redes sociais sempre souberam o quão elas eram viciantes. Sean Parker, o primeiro presidente do Facebook, admitiu em uma entrevista em 2017 que o objetivo do Facebook e do Instagram era criar um "um ciclo de feedback de validação social, exatamente o tipo de coisa que um hacker como eu poderia criar, porque você está explorando a vulnerabilidade da mente humana".

Homem sentado em ambiente escuro olha para a luz do computador enquanto é envolto por um monstro preto que segura a tela do notebook
Catarina Pignato

O livro mostra como esses efeitos são especialmente perversos em crianças e adolescentes, mas adultos de todas as idades também estão sujeitos aos prejuízos na saúde mental. Horas e horas a rolar feeds em looping, ver atualizações de pessoas que já não fazem parte do seu círculo social, compartilhar memes engraçados porém inúteis e, principalmente, ter contato com conteúdos extremos, que são os que captam interesse nessas plataformas.

Os brasileiros estão entre os que mais usam as redes sociais. Segundo pesquisa GWI de 2023, passamos em média 3h37min por dia nessas ferramentas, contra uma média global de 2h23min. Haidt conclui que houve uma mudança de uma infância baseada na brincadeira para uma infância baseada no celular. No entanto, o buraco é ainda mais profundo e saímos de uma vida baseada no mundo externo para uma vida baseada no celular. Até mesmo atividades como academia ou bar com amigos são acompanhadas por aparelhos na mão.

Por mais que eu já tivesse desabilitado as notificações e postasse pouco, o hábito me fazia abrir o Instagram, muitas vezes sem nem me dar conta. O livro me fez perceber que minhas horas na rede social eram totalmente desperdiçadas. Eu não desinstalei o aplicativo, mas me forcei a não abri-lo, o que fez meu tempo de uso cair a zero minutos por dia.

Captura de tela do tempo de uso do aplicativo Instagram
Captura de tela do tempo de uso do aplicativo Instagram - captura de tela

Minha vida pós-Instagram melhorou em muitos aspectos. Não tenho mais a ansiedade instagramística e não sinto necessidade de responder a ninguém —inclusive pessoas que só interagiam comigo ali passaram a falar no WhatsApp. Minha leitura à noite passou a ser de mais qualidade.

Uma parte do tempo gasto no Instagram eu atribuía ao meu trabalho profissional. Como editor de redes sociais, preciso saber o que está acontecendo nas plataformas. É apenas parcialmente verdade. É possível se informar sobre as novidades das redes lendo veículos especializados, por exemplo.

Por dois dias eu rompi o pacto comigo mesmo e passei mais de duas horas como um usuário tradicional do Instagram. Há uma explicação. Eu estava no auge da dengue, sem forças para fazer mais nada. O Instagram foi um bom escape para o tédio, o que me faz lembrar de quando as redes eram apenas isso e não estavam intrincadas no nosso cotidiano, sendo consideradas uma parte de quem somos.

Eu também preciso ser honesto: passo, em média, 15 minutos por dia no perfil do Instagram do meu trabalho. Faço o básico: as publicações do dia, monitoro mensagens e marcações, acompanho outras páginas do mesmo tema. Há uma diferença brutal, todavia: estou sendo remunerado para isso.

Não entrar mais no Instagram não significa ter saído de todas as redes sociais. O X (ex-Twitter), por exemplo, ainda é fundamental para o trabalho de jornalistas. Ele não tem monitor de tempo de uso, mas calculo que eu passe uma hora por dia ali. Como todo vício, estamos trabalhando com redução de danos. Zerar o Instagram é uma vitória.

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