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Luiza Pastor
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Mosquetão de Ouro 2024 tem equipe desclassificada por invadir área interditada da Serra Fina

Grupo inscreveu projeto que detalhava seu trajeto irregular dentro da área

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A premiação do Mosquetão de Ouro deste ano, divulgada no festival Rio nas Montanhas no dia 25 de maio passado, incluiu uma pitada de polêmica por conta da desclassificação de um dos grupos indicados para a categoria Montanhismo, que havia percorrido 51 quilômetros pelas cristas da Serra Fina, instalando tubos de cume em cada um dos picos da área fora da trilha clássica delimitada desde a reabertura do percurso. O motivo da desclassificação foi o fato de a equipe não ter comunicado à Ruah!, agência que administra os acessos à Serra Fina, nem à APSF (Associação dos Proprietários da Serra Fina) que faria um trajeto muito maior e fora do traçado demarcado, que tem uma extensão de 32 quilômetros.

Como admitiu Rodrigo Alexandre, membro da equipe MDA (Malucos da Amantikir), a decisão de ampliar o escopo da jornada além do estabelecido nas regras da Ruah! e da APSF se deu justamente para evitar serem impedidos de, segundo eles, cumprir o objetivo de levar tubos com livros de cume, cobertores de emergência e sachês de mel para locais onde eventualmente montanhistas poderiam vir a se perder caso (como eles) saíssem da rota demarcada.

A equipe MDA, que percorreu rota antiga na Serra Fina sem autorização.
A equipe MDA, desclassificada por percorrer rota antiga na Serra Fina sem autorização, no alto da Cabeça do Touro, um dos pontos interditados à visitação. Da esq, para a dir, Erick Fernando, Vilmar Gomes, Douglas Reginaldo Torres Garcia, Guilherme Willian da Silva, Willian Marcelino da Silva e Rogério Alexandre Francisco da Silva - Rogério Alexandre/Acervo pessoal

"Não perguntamos à Ruah! nem à Associação se poderíamos fazer esse trajeto fora do demarcado porque se perguntássemos eles diriam que não", justifica Alexandre ao blog. Mesmo sabendo da irregularidade, o grupo já havia publicado o relato detalhado de sua jornada no site especializado Alta Montanha, no ano passado, e, no dia 27 de maio respondeu pelo mesmo canal à notícia da desclassificação de seu projeto na premiação.

"Cumpre ressaltar que os cumes acessados são de tradicional frequência do público montanhista, com visitações documentadas prévias à criação da APSF/RUAH!, que de forma arbitrária e autocrática 'proibiu' seu acesso", diz a nota publicada pela MDA após a desclassificação.

O vice-presidente da Associação dos Proprietários da Serra Fina, José Sávio Monteiro
O vice-presidente da Associação dos Proprietários da Serra Fina, José Sávio Monteiro - Reprodução/Instagram

"Ele mesmo admite na própria publicação que foi de má-fé", comenta José Sávio Monteiro, vice-presidente da APSF. "Ele poderia ter me perguntado, ele me conhece, mas não quis", acrescenta, explicando que toda a trilha liberada dentro da Serra Fina atualmente foi definida a partir de estudos e manejos desenvolvidos junto ao ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), para promover o menor impacto ambiental ao longo da área que sofreu um grande incêndio em 2020, devastando uma área de 530 hectares —equivalente a mais de 500 campos de futebol.

"Se antes ele entrava de qualquer jeito, hoje não pode entrar mais, isso prova o desrespeito que as pessoas têm pelas regras, pelo ambiente e pela área privada, que é uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural)", diz Monteiro. Ele explica que a interdição de áreas dentro da serra pretende evitar que se voltem a desmatar e abrir novas trilhas em partes em que a vegetação se recuperou depois do incêndio, e cujo manejo ainda não foi estudado para eventuais novas inclusões.

Novo trajeto de travessia da Serra Fina sem passar por dentro do vale do Ruah
Novo trajeto de travessia da Serra Fina autorizado para visitação - @apsf.serrafina em Instagram

Além de divulgar sua jornada irregular no site especializado, a MDA inscreveu a façanha na premiação do Mosquetão de Ouro, do qual acabou sendo desclassificada após os organizadores serem informados pela APSF da irregularidade. Em comunicado oficial, a CBME (Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada), disse que o projeto estava fora "por não atender o regulamento do prêmio, baseado nos seguintes itens: ética, respeito ao meio-ambiente, respeito à comunidade local e a outros montanhistas e observação dos princípios e valores do montanhismo brasileiro".

Segundo Marcio Hoepers, presidente da CBME, a entidade defende "o livre acesso, desde que em comum acordo com os proprietários quando em áreas privadas". E, para o próximo ano, ele conta que o prêmio Mosquetão de Ouro será reformulado "pensando na evolução e amadurecimento do premiação".

Os premiados do Mosquetão de Ouro 2024

O Mosquetão de Ouro é inspirado no grande prêmio internacional do montanhismo, o Piolets d'Or (nome em francês da picareta usada para escalar no gelo), e entregue no Brasil desde 2015.

  • Montanhismo: Bruno Buratto, Henrique Krueger, Sérgio Honorato e Thiago Silva
  • Altas Montanhas: Gabriel Tarso
  • Escalada: Sérgio Tartari e Alexande Portela
  • Escalada Esportiva: Marina Dias
  • Montanhismo e Sociedade: Eliseu Frechou
  • Montanhismo e Ação Local: Projeto Vão do Moleque
  • Vida na Montanha: Sérgio Tartari

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