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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
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Qual a exposição ideal ao dólar para proteger seu patrimônio?

Descubra como avaliar a necessidade de exposição ao dólar em seu portfólio, considerando a volatilidade cambial e as estratégias de proteção contra a inflação e diversificação

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Sempre que o dólar sobe, surge a preocupação: será que eu deveria ter mais exposição a ativos em dólar? Para alguns, essa preocupação pode ser legítima, mas para a maioria, há uma forma de proteção de longo prazo mais adequada.

Operadores de mercado na Bolsa de Nova Iorque (NYSE). REUTERS/Brendan McDermid - REUTERS

O dólar se valorizou 9,1% contra o real neste ano, até sexta-feira. Quando olhamos apenas essa métrica, o número parece assustador, e logo vem a pergunta mencionada acima. O problema é que, de forma geral, temos memória curta. Sentimos apenas o momento que experimentamos.

Entretanto, se olharmos um pouco para trás, perceberemos que esta alta não é especial, mas sim a volatilidade natural desse instrumento. O mesmo patamar de R$ 5,30 já foi alcançado em 2020, 2021, 2022 e no início de 2024. Ou seja, estamos no mesmo nível pela quarta vez em quatro anos.

O gráfico abaixo mostra a evolução do câmbio real/dólar nos últimos quatro anos. Ao analisar essa perspectiva, podemos perceber o quanto esse instrumento possui fortes oscilações.

A volatilidade da taxa de câmbio real/dólar é de 15,4% ao ano. A volatilidade é uma estatística que mede a dispersão dos retornos do ativo em relação à sua média. Para colocar em perspectiva, a volatilidade do índice de ações americanas S&P500 é de 14,7% ao ano. Portanto, a moeda brasileira oscila mais que o S&P500.

Evolucão do câmbio Real / Dólar desde maio de 2020.
Evolucão do câmbio Real / Dólar desde maio de 2020. - Michael Viriato

Quem se assustou com a valorização do dólar sempre que a taxa de câmbio oscilou próximo de R$ 5,30 neste período acabou se frustrando com oscilações contrárias pouco tempo depois. Sem dúvida, o movimento atual surpreende.

Muitos economistas e gestores apostavam em uma desvalorização do dólar este ano. O relatório Focus do Banco Central apontava que a média dos economistas previa um dólar no fim do ano em R$ 4,92. Alguns acreditavam que a moeda americana poderia até encerrar o ano valendo apenas R$ 4,50.

A justificativa de um real mais forte não deve ser descartada. A balança comercial tem batido recordes e a perspectiva é que esse movimento se intensifique nos próximos anos. Essa entrada de divisas pressiona o câmbio para baixo.

Para decidir quanto ter de exposição em dólar, é preciso ponderar entre dois fatores: exposição e proteção. Vou abordar apenas o lado da proteção.

Quando se fala em proteção, é possível pensar em duas situações: perda de poder de compra e diversificação de carteira.

Evolucão de um investimento de R$ 100 no dólar e IPCA desde janeiro de 1999.
Evolucão de um investimento de R$ 100 no dólar e IPCA desde janeiro de 1999. - Michael Viriato

Pela ótica da perda de poder de compra, a melhor forma de se proteger do câmbio não é com exposição à moeda em si, mas ao reflexo que ela pode trazer, que é a inflação. O gráfico acima apresenta a evolução de um investimento de R$ 100 no dólar e no IPCA desde janeiro de 1999. Essa data é importante, pois somente a partir dela tivemos câmbio flutuante no Brasil.

Perceba que ativos referenciados ao IPCA foram muito mais favorecidos. Isso quer dizer que se você investiu em dólar + 6% ao ano ou IPCA + 6% ao ano desde 1999, você teve melhor retorno e menor volatilidade aplicando em IPCA + 6% ao ano. Assim, pela ótica de proteção do poder de compra, em vez de se preocupar se está na hora ou não de aplicar em dólar, é melhor aproveitar as taxas de juros mais elevadas referenciadas ao IPCA.

Na visão de diversificação, é importante entender o que é a diversificação. Para investidores que possuem apenas renda fixa, investir em dólar não é exatamente diversificar, mas se expor ao risco cambial. O benefício da diversificação em dólar seria proveitoso para quem tem exposição a ações brasileiras, por exemplo. O dólar tem correlação de -0,68 contra o Ibovespa. Essa estatística indica que, em geral, quando o Ibovespa cai, o dólar tende a subir, e vice-versa. Isso ajuda a reduzir a volatilidade da carteira do investidor, pois os ativos tendem a se mover em direções opostas.

Nesse caso, a decisão de quanto ter de moeda depende da sua exposição ao risco que deseja diversificar. Por exemplo, poderia ter o mesmo percentual de dólar que tem de exposição à bolsa brasileira. Ressalto que não estou argumentando contra a diversificação internacional. Ela é válida e, como já abordei anteriormente, pode ser realizada em ativos internacionais com proteção cambial, agregando um elemento de retorno adicional que é o diferencial de taxas de juros.

Portanto, a decisão de quanto ter de exposição em moeda está muito mais relacionada a uma aposta. Nesse caso, cuidado para não ser influenciado pelo momento. Como apresentado no primeiro gráfico, a volatilidade do câmbio é muito alta e você pode ser surpreendido com um movimento contrário.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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