Em momentos de conflitos geopolíticos, investidores se deparam com um dilema crucial: a decisão entre vender suas posições imediatamente para minimizar perdas potenciais e migrar para ativos considerados mais seguros, como o ouro e dólar, ou manter suas posições atuais apostando em uma recuperação do mercado.
Embora a primeira opção possa parecer atraente em face do medo e da incerteza, agir precipitadamente pode levar a decisões subótimas, como a venda de ativos valiosos a preços baixos, a perda de oportunidades de recuperação e a aquisição de ativos que já se valorizaram e podem acabar por gerar perdas com uma reversão.
Este é o dilema que muitos enfrentam: agir rapidamente para proteger o capital ou manter a calma e esperar por uma potencial estabilização, que pode beneficiar aqueles que suportaram a volatilidade inicial.
Dada a complexidade desses cenários, algumas perguntas ganham importância para ajudar os investidores a navegar pelas incertezas com maior segurança e estratégia. Vamos explorar essas perguntas e as respostas que podem orientar investidores durante esses períodos turbulentos.
O que costuma ocorrer com variáveis como juros, moedas (Reais/ dólar) e Bolsa?
Em momentos de conflito, é comum observar o aumento dos juros como uma reação à percepção de risco maior por parte dos investidores. As moedas de países emergentes, como o Real, tendem a se depreciar frente ao dólar, que é considerado uma moeda de refúgio. A bolsa de valores geralmente sofre quedas, refletindo o medo e a incerteza do mercado. Essas reações são parte da resposta do mercado à incerteza e ao risco percebido, levando a uma fuga para ativos considerados mais seguros.
Entretanto, todas estas reações, caso ocorram, são de curto prazo. Elas só persistem se o cenário continuar se deteriorando e houver contaminação do conflito em variáveis chave da economia como crescimento e inflação. Portanto, é muito importante manter a calma e a visão estratégica de longo prazo para o portfólio.
O que fazer se tenho aplicações referenciadas ao IPCA?
Investimentos atrelados ao IPCA são frequentemente vistos como uma proteção contra a inflação. Em períodos de conflito, se a inflação for impactada pela desvalorização da moeda ou por outros fatores econômicos, manter essas aplicações pode ser benéfico. Contudo, no curto prazo, o aumento de juros mencionado anteriormente pela elevação da incerteza pode impactar negativamente os títulos. Ajustes podem ser necessários dependendo do horizonte de investimento e da evolução do cenário econômico.
O que fazer se tenho aplicações de renda variável como ações ou fundos imobiliários?
Em cenários de alta volatilidade e incerteza, como os gerados por conflitos, a renda variável pode ser particularmente afetada. Para aqueles que possuem ações ou fundos imobiliários, a recomendação é revisar a composição desses investimentos, focando na qualidade e na resiliência dos ativos. Também, analisar se a exposição está alinhada com o perfil de risco do investidor. Avalie se é momento de realocar parte do capital para ativos menos voláteis ou se é viável manter a posição atual, sempre considerando o seu perfil de risco e os objetivos de longo prazo. Lembre-se sair do mercado em momentos de estresse, costuma não ser a atitude mais adequada.
Como devo proceder com o portfólio para sofrer menos?
Em períodos de alta incerteza e volatilidade causados por conflitos geopolíticos, uma das abordagens mais prudentes é reavaliar o horizonte temporal dos seus investimentos. Se o seu portfólio está sofrendo impactos negativos significativos no curto prazo, pode ser estratégico avaliar quais posições ainda fazem sentido manter com base em suas perspectivas de longo prazo e quais podem necessitar de uma saída tática para evitar perdas maiores.
Outra medida importante é fortalecer a posição de caixa. Isso não apenas protege contra a necessidade de vender ativos depreciados em um mercado desfavorável, mas também prepara o terreno para aproveitar oportunidades de compra que emergem frequentemente em períodos de incerteza e desvalorizações. Manter uma reserva de liquidez mais substancial pode ser crucial para atravessar o período de turbulência sem comprometer investimentos estratégicos de longo prazo.
Além disso, pode ser útil implementar stop-loss em posições particularmente voláteis, alavancadas ou de alto risco para limitar perdas potenciais. Esta é uma ferramenta que automaticamente vende um ativo quando ele atinge um preço específico, ajudando a evitar perdas maiores caso o mercado continue a declinar.
Por fim, manter-se informado e atento aos desenvolvimentos do mercado e do conflito é essencial. Decisões informadas são sempre mais eficazes e, muitas vezes, é o timing dessas decisões que diferencia os resultados em períodos de crise. Avaliar continuamente o cenário econômico e político pode fornecer informações cruciais para ajustar rapidamente as estratégias conforme necessário.
Ao manter a calma e seguir uma estratégia bem pensada, estratégica e de longo prazo, é possível atravessar períodos de crise com maior segurança e potencialmente emergir em uma posição financeira mais forte quando a estabilidade for restaurada.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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