Imagine-se atravessando uma tempestade. À sua volta, o vento uiva, a chuva cai torrencialmente, e o céu cinzento parece prometer que o sol jamais retornará. Nesse momento, é fácil acreditar que estamos enfrentando a pior tempestade de todas, esquecendo-nos de todas as outras que já passaram e que, de alguma forma, superamos. Esse fenômeno não se limita apenas às intempéries do clima, mas estende-se também à forma como percebemos nossas experiências financeiras, particularmente quando olhamos para o desempenho de índices como o Ibovespa.
Este sentimento de que "agora é o pior momento" pode começar a corroer nossa confiança nas decisões que tomamos, especialmente quando se trata de investimentos. Mas será que as coisas estão realmente tão ruins quanto parecem, ou estamos sendo vítimas de nossas próprias percepções distorcidas?
No campo das finanças comportamentais, existe um conceito conhecido como "viés de recência", que descreve a tendência de as pessoas darem mais peso aos eventos mais recentes do que aos anteriores.
Isso pode nos fazer acreditar que os desafios atuais são mais significativos do que realmente são, simplesmente porque estão frescos em nossa memória. Mas, ao olhar para os dados, frequentemente descobrimos que a realidade é mais complexa.
Neste ano, o Ibovespa se desvaloriza 3% no acumulado dos dois primeiros meses. Não parece muito, mas qualquer perda quando demora para se recuperar, se torna um fardo pesado para suportar.
Muitos investidores, animados com o desempenho dos últimos dois meses de 2023, decidiram entrar na Bolsa e agora refletem se fizeram a coisa certa. Será que desempenhos como esse se repetiram no passado?
Nos últimos 23 anos, o Ibovespa teve um retorno negativo nos primeiros dois meses do ano em 13 ocasiões. Isso significa que em mais da metade das vezes, os investidores que avaliaram seu desempenho apenas nesse curto intervalo poderiam ter considerado sua estratégia um fracasso.
No entanto, a média do retorno acumulado de janeiro e fevereiro ao longo desses anos foi de 1,2%. O maior retorno observado foi de 16% em 2012, e o pior foi de -9,9% em 2020. O Gráfico abaixo apresenta o desempenho acumulado de janeiro e fevereiro em cada ano. Lembro que o desempenho de índices como o Ibovespa já inclui os ganhos de dividendos.
A pergunta que se impõe é: deveríamos julgar a saúde de nossos investimentos com base em apenas dois meses de desempenho? A resposta, é claro, é não. O investimento em ações é uma jornada de longo prazo, e avaliações baseadas em períodos tão curtos são tanto enganosas quanto potencialmente prejudiciais à nossa saúde financeira.
Mais importante do que reagir a flutuações de curto prazo é garantir que a sua exposição ao risco esteja alinhada com o seu perfil de investidor. Isso significa entender sua própria tolerância ao risco, objetivos financeiros e horizonte de investimento.
Para alguns, uma estratégia mais conservadora, focada em títulos de renda fixa, pode ser a mais adequada. Para outros, a volatilidade do mercado de ações oferece oportunidades de crescimento que estão em consonância com seus objetivos de longo prazo e sua capacidade de tolerar as flutuações do mercado.
Portanto, da próxima vez que se sentir tentado a desanimar com o desempenho de curto prazo do Ibovespa, lembre-se da tempestade. Assim como o sol eventualmente rompe as nuvens mais sombrias, os mercados têm uma maneira de corrigir-se ao longo do tempo. A chave é permanecer fiel à sua estratégia de investimento, adaptando-a conforme necessário, mas sempre alinhada com seus objetivos e perfil de risco. Isso, mais do que qualquer retorno de curto prazo, é o que define o sucesso no investimento.
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Aproveito para chamar a atenção para o artigo dessa semana da coluna Comento seu Dinheiro. Nesta nova coluna, eu comento e esclareço os desafios financeiros dos leitores. Se você desejar, posso comentar sobre sua dúvida. Para enviar sua dúvida, escreva um e-mail para mim descrevendo o problema e colocando no título: Comente meu dinheiro. No e-mail, fale sua profissão, idade, conte um pouco de sua história e explique seu dilema com detalhes.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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