Uma das minhas grandes curiosidades ao ler a autobiografia do papa Francisco, escrita em parceria com o jornalista italiano Fabio Marchese Ragona e focada na interrelação entre a vida do pontífice argentino e os grandes acontecimentos históricos, era entender como e quando ocorreu a "conversão" ambiental de Jorge Mario Bergoglio.
Isso porque o documento mais inovador do papado de Francisco, e talvez o mais inovador desde a grande reforma do Concílio Vaticano II nos anos 1960, é a encíclica "Laudato Si'", de maio de 2015. O texto empresta seu nome de uma frase do "santo da natureza", são Francisco de Assis, e resume de maneira exemplar o que a ciência descobriu sobre a emergência climática e sobre os graves problemas ambientais que enfrentamos de forma mais geral.
Desde a publicação da "Laudato Si'", Francisco tem buscado integrar a preocupação ambiental ao magistério do papado de forma constante e inédita. Só problemas de saúde acabaram por impedi-lo de participar da última COP (conferência da ONU) sobre a crise climática.
Curiosamente, porém, o texto da autobiografia "Vida: A Minha História Através da História" só aborda de forma rápida o tema. Não há nada sobre passeios na natureza ou árvores especialmente queridas na juventude de Bergoglio (o qual, vá lá, passou muito tempo da vida no coração de Buenos Aires).
A explicação, disse-me Fabio Ragona, é simples: Francisco de fato despertou para o tema há pouco tempo. Nesse sentido, é um "convertido" recente ou recém-batizado. Segundo o autor, parte desse despertar se deve ao que os bispos do Brasil lhe contaram sobre o avanço do desmatamento na Amazônia.
Considerando a rapidez da mudança, o papel de Francisco como arauto da luta antimudança climática é ainda mais impressionante. Tomara que isso traga frutos.
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